21 de dez. de 2012

Keep calm and... me dê livros de Natal!!!

Ainda dá tempo, hein????



19 de dez. de 2012

[Cursos] Pacote de Verão na Escola do Escritor


17 de dez. de 2012

O [submisso] papel da mulher na nova literatura erótica


Eu ainda não tinha me pronunciado em relação a essa onda de literatura erótica porque, embora eu tivesse certeza da minha opinião, não costumo postar no blog na linha do “não li e não gostei”. Mas, já afirmo logo de cara: foi uma das piores coisas que li nos últimos anos. E incluo aqui diversos vampiros x lobisomens e afins.

Não vou nem me prender no tópico da tradução mal feita, do vocabulário chulo, do enredo mal trabalhado. Vou focar num único ponto que me chocou profundamente: o papel submisso e humilhante da mulher.

Acho importante deixar claro que eu não estou falando de um único livro ou autor. Li mais do que um desse gênero para tirar as más impressões [que não sumiram] e a comprovação de que a mulher é usada como um objeto sexual é a mesma. 

Para começar, esse gênero literário não é nenhuma novidade e Sabrina tá aí para provar isso. Mas se não tivessem criado um milionário engravatado que bate em mulheres, certamente, a pobrezinha da Sabrina seria ultrapassada, indecente e brega.

A literatura erótica dos dias atuais estimula a cultura do estupro. É dita como a nova versão dos contos de fadas, só que os príncipes não chegam em seus cavalos brancos, mas em carros importados, vestidos com ternos caros; e seus castelos são apartamentos caríssimos. Suas espadas são os cartões de créditos ilimitados e seu charme é a vontade insaciável de transar o tempo todo, o dia inteiro, todos os dias da semana. 

Só que, ao contrário das histórias da Cinderela, Bela Adormecida e Branca de Neve, o príncipe não está em busca de seu verdadeiro amor. Na onda dos contos de fadas eróticos, os machos alfa buscam um ser  do sexo feminino, com quem eles possam gastar toda (se é que existe um limite) energia sexual, e que lhes deem prazer, saciando todas as suas vontades, não só na cama, mas – e aí vem a maior gravidade de todas – no dia a dia.

Vale lembrar que em pleno século 21,  a mulher ocupa um lugar de destaque na sociedade, ainda machista, e que ao longo dos anos vem lutando para conquistar a tal da igualdade que lhe é de direito, seja na política, nos altos cargos empresariais, ou na sociedade como um todo. 

Mas daí é só aparecer um cara na ficção que faz sua parceira quase enlouquecer depois de gozar quatro, cinco, dez vezes consecutivas; e a mulher esquece de todos os princípios que regem sua vida, para ficar a mercê de um babaca milionário que sabe f*der muito bem. (Para quem se incomodou com a escrita baixa desse post, peço desculpas. Mas é para tornar bem real a sensação do que é ler um livro desses. E ainda estou sendo bem delicada).

Que as descrições das cenas de sexo são estimulantes, isso ninguém pode negar. Porém, numa análise crítica, as cenas são sempre as mesmas com algumas poucas diferenças. O que conta aí, é a habilidade do autor em mudar as palavras e sempre parecer que a língua, o membro, o calor, o estouro de prazer, a explosão, o jarro de gozo etc, são coisas tão diferentes a cada relação, o que faz o cara parecer uma máquina. Só que não, né? 

Vale ressaltar também que a questão desses livros é sempre o homem, mesmo no auge do prazer feminino: aquilo é bom para ELE. Ele manda, a mulher obedece.

Eu não desejo nem de perto um Mr. Grey e nem um Gideon Crossfire. O abuso das mulheres é tanto as protagonistas da trama vivem PARA eles – e nem COM eles – porque a vida delas tornou-se nula sem a presença deles, que as controlam o tempo todo. 

Olha... Eu não sei vocês, meninas, mas meus pais não me criaram para me submeter ao autoritarismo de um milionário qualquer e simplesmente esquecer de quem EU SOU e do que EU gosto. O lance aqui ultrapassa o abuso físico: é um assédio moral, é uma lavagem cerebral movida pelo prazer sexual.


Já deixei claro em outros momentos que sou contra o preconceito literário (sou fã de Harry Potter, adoro Anjos e Demônios [ai gente, é em ROMA, não dá pra resistir, né?] e não vivo sem Edward Cullen, da saga Crepúsculo, lembram??). Acho que a vida tá aí pra ser lida e relida. Mas me incomoda muito a falta de reflexão sobre um assunto de tal gravidade. Porque tem uma infinidade de mulheres no mundo esperando seu príncipe encantado Cinza, de terno e gravata, mas não percebe que ter um cara desses é fácil (sociedade machista sambando na nossa cara); difícil mesmo, é não se perder de si mesma e de seus princípios do que é ser mulher.

O que mais me intriga em tudo isso é como as próprias mulheres se colocam no papel errado de que precisam daquilo tudo para serem felizes e sentirem prazer. A necessidade de viverem submissas às vontades e desejos de um homem machista ao extremo passa a guiar a vontade delas de viver. Elas se anulam quanto mulher, quanto ser humano. 

Caros, não levem Nelson Rodrigues ao pé da letra porque as mulheres NÃO gostam de apanhar. E não será Mr. Grey nenhum que vai nos convencer do contrário. É preciso muito menos do que essa palhaçada toda, para fazer uma mulher sorrir de prazer (e se você sorriu, sabe do que estou falando... =P).







Lisbeth Salander, rogai por nós

Há alguns meses escrevi aqui sobre minha relação com a Triologia Millenium e afirmei que o principal fator de ter gostado da trama se deveu à protagonista Lisbeth Salander e tudo o que ele representa para o universo feminino. As cenas de abusos sexuais descritas em detalhes nos livros de Stieg Larson são praticamente as mesmas que matam as mulheres-objeto de prazer nessa nova onda erótica. 

Talvez seja só um ponto de vista, mas Lisbeth, marginalizada ao extremo, tornou-se a anti-heroína pela qual todos torcemos. E ela provou que mulher nenhuma merece ficar em outro lugar, que não no topo. 


Minha dica para quem não vive sem Mr. Grey ou seus amigos poderosos é: não abram mão da literatura que vocês curtem, mas leiam Millenium. É importante não se alienar numa falsa realidade e ter um contrapeso para abrir caminhos para a reflexão. 

Em tempo, se a ideia é dar uma esquentada no relacionamento inspirando-se na literária para levar boas ideias para a cama, Xico Sá dá 10 dicas muito melhores. Vale dar uma olhada, atualizar a biblioteca e usar a imaginação...