Há alguns dias o mercado editorial
soube que Maria Emília Bender e Marta Garcia deixaram seus respectivos cargos
de diretora editorial e editora na Companhia das Letras, após
mais de 20 anos de casa.
Raquel Cozer, jornalista da Folha de
S. Paulo, trata do assunto com propriedade e mais detalhes em
sua coluna. Luiz Schwarcz,
editor da Companhia das Letras, dedicou sua coluna no blog da
editora, no dia 01/11, em uma homenagem às duas colegas de trabalho.
O fato é que essa notícia me fez
refletir sobre o mercado editorial brasileiro e seus personagens. E percebi
que, muito embora eu considere nosso mercado conservador, a velha guarda tem
espaço de atuação – e respeito das novas gerações - cada vez menor.
Muitos vão dizer que estou errada, que
esse não é o caso de Maria Emilia e Marta (e de certa forma não é mesmo), mas
penso que estamos migrando para uma tendência editorial onde os velhos não têm
vez.
“O mercado mudou”, “a maneira de fazer
livros mudou”, “o papel do editor mudou”, “o leitor mudou”... Essas são todas
verdades, repetidas incansavelmente, aos defensores das novas gerações. A modernidade dos e-books, a instantaneidade
das informações e o caráter plural e inovador dos profissionais estão roubando
o lugar, cada vez menos expressivo, dos almoços com autores, encontros de
livreiros e da [importante] troca de experiências profissionais.
Longe de mim ser saudosista e achar
que o mundo era muito melhor quando os livros ainda eram manuscritos,
literalmente. Não vivi nessa época e nem desejaria viver. Sou da tal nova
geração a que me refiro, sou pós-moderna, vivo conectada e acredito no conteúdo
digital de qualidade.
Mas acredito, acima de tudo, nas
pessoas. Maria Emilia e Marta foram casos públicos, divulgados pela grande
imprensa, e por isso as uso como exemplos ilustrativos. Mas quase todos os
dias, o mercado editorial perde o brilho ao perder pessoas, especialmente
aquelas que dedicaram suas vidas a construir o mercado editorial brasileiro
que, embora tenha muitas falhas, é consolidado e chama cada dia mais atenção
mundo afora.
Além do mais, estamos perdendo qualidade
propriamente dita. Os livros estão sendo feitos a toque de caixa, como se
fossem industrializados na produção em massa. O resultado dessa pressa
irritante são traduções porcas, revisões desleixadas, edições incompletas, diagramações
amadoras e capas repetitivas. Essa urgência da nova geração editorial deixou de
lado o respeito com o leitor.
Com isso, estamos deixando de lado, de
maneira nem sempre sutil e amigável, o que temos de mais precioso: a história
do mercado editorial brasileiro. Acredito que o papel da nova geração é resgatar na velha guarda editorial o
respeito ao leitor e, acima de tudo, o amor ao livro.