Vale para deixar claro que, na minha humilde opinião, todo excesso deve ficar de fora (da vida)!
E vocês, o que acham??
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Autor e Gerúndio: parceria ou conflito?
Escrevi
um conto para uma coletânea e, como tenho lido muitos livros da editora
que a publicará, banquei a malandra e escrevi o texto “nos moldes” dos
livros produzidos por ela. Qual foi minha surpresa quando a Editora
devolveu-me o texto e alegando que, entre outras coisas, eu estava
escrevendo com muito gerúndio!
=O
Não pude acreditar! Eu havia escrito conscientemente desta maneira por achar que era isso que ela e o público queriam!
Como
sou inquieta e não desisto nunca, peguei livros de três editoras
diferentes, voltados para o mesmo público-alvo, e encontrei o mesmo
ponto pertinente: romances traduzidos nos quais era possível detectar
mais de cinco verbos no gerúndio por parágrafo!
Então,
o que está acontecendo? Quero dizer, traduzir e publicar livros assim
está tudo bem, mas o autor nacional não deve escrever assim? Por outro
lado, se o público alvo está lendo livros assim e, aos poucos, está se
acostumando com essa característica na narrativa, como o autor nacional –
que se recomenda não escrever desta forma – irá cativar este público,
se não poderá oferecer a ele as mesmas características?
Vejam este exemplo, criado por mim:
Sabendo que os perseguidores vinham atrás dela, Fulana arremessou o casaco para a direita, correndo na direção oposta, imaginando que desviaria a atenção deles. Atravessando a floresta escura, percebeu, adiante, a entrada de uma gruta e nela se escondeu, torcendo para estar a salvo ali.
Percebem o que quero dizer?
A
partir do momento em que o tradutor/copidesque/revisor é orientado a
fazer seu trabalho de maneira estritamente próxima do original, sem
adaptar o texto, o uso excessivo de gerúndio se torna um erro ou apenas
tendência de mercado? E, se for este último caso, então por que impedir o
autor nacional de escrever nos mesmos moldes?
E
quanto a nós, leitores, blogueiros e críticos? Cabe a nós dizer às
editoras que queremos os livros traduzidos sim, mas queremos que o texto
seja adaptado para as regras da nossa língua, e não que a nossa língua
de adapte ao texto da maneira mais conveniente. Pode parecer exagero,
mas este é o tipo de atitude que, em longo prazo, poderá causar sérios
danos à nossa língua! Imagine a garotada atual, comedora de livros,
daqui a dez anos, escrevendo igual aos livros que leem hoje...
Vejam
bem: este não é um post reclamando do trabalho dos revisores e cia, até
porque eu mesma sou revisora e sei que em geral o prazo é apertado e o
pagamento não é lá essas coisas. O que eu pretendi fazer foi uma análise
sob diversos primas: do escritor, do leitor, da editora – esta última,
claro, preferirá sempre receber um texto bem escrito, independentemente
da língua original.
O
gerúndio é um verbo que faz parte de nossa gramática e deve (e pode!)
ser usado. Porém, como qualquer outro, seu uso em excesso torna a
leitura cansativa e, por vezes, falsa – afinal, nós, leitores, sabemos
que em português nós não falamos daquela maneira.
Fica a dica.
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Janda Montenegro
author / autora
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