Bom, essa realidade não é nada distante para Suria Scapin e Isabela Parada, fundadoras da Editora Pipoca, que nasceu com a confiança de que, dessa maneira, a literatura leva mais longe, as informações ficam mais interessantes e as aventuras na cozinha, mais divertidas!
Para celebrar o Mês das Crianças, o Blog No Mundo Editorial convidou Suria e Isabela para um bate-papo sobre essa nova forma de pensar livros infantis, 100% digital.
A Pipoca acredita na diversão de uma boa leitura como forma de acender a imaginação infantil e proteger a infância e sua potência criadora, ajudando papel ativo da criança em seu próprio crescimento. Por isso, seus livros têm um formato especial, que trazem mais do que textos pedagogicamente trabalhados e ilustrações elaboradas que acompanham a linha editorial; mas trazem também sons, música, imagens animadas, elementos interativos e outros elementos trazidos para enriquecer uma boa história.
Leia abaixo a entrevista na íntegra e seja um pipoqueiro!
NO MUNDO EDITORIAL - A
Pipoca é uma editora 100% digital. O que motivou vocês a apostarem nessa
escolha?
PIPOCA - Atualmente as crianças têm acesso às
tecnologias portáteis muito cedo. O número de vendas de smartphones e tablets
no Brasil é bastante considerável e, em tais dispositivos, o que vemos é uma
farta opção de jogos e pouquíssimas opções de livros infantis. Existem livros
que mais se assemelham a jogos, mas isso não supera o espaço da leitura.
Uma criança
sabe quando quer brincar e quando quer ler. E sabe a diferença entre as duas
atividades. Apostamos no formato digital porque acreditamos na importância da
leitura, independente do suporte em que ela se dê.
NOME - Como surgiu a ideia da
Pipoca?
PIPOCA - A ideia da Pipoca surgiu quando eu (Suria),
trabalhava em uma
editora de livros didáticos que estava começando a entrar na produção de
paradidáticos e, então, comecei a me incomodar fortemente com os critérios de
seleção dos livros, que levavam em consideração quase que somente a
possibilidade de entrar em algum programa de incentivo do governo.
Acho que as
compras governamentais são uma excelente forma de movimentar o mercado e fazer
com que os livros cheguem nas mãos das crianças, mas não podem ser a única
opção.
Não entendia
porque não poderíamos pensar em projetos digitais, por exemplo. Então, pensei
que eu poderia tentar isso, publicar livros de autores nacionais que
fossem produzidos independente dos editais. Para isso eu precisaria de uma pedagoga,
então, chamei a Isabela.
A ideia de
ser uma editora digital nasceu junto com a ideia da editora em si.
NOME - Vocês fizeram a escolha de publicar os livros
em um formato específico, o E-pub3. O que difere esse formato dos outros e por
que fizeram essa escolha?
PIPOCA - Escolhemos
publicar em e-pub com layout fixo. Este formato mantém a diagramação do livro
(como um arquivo PDF) e permite
recursos como áudio, animação e interação.
Apesar de
permitir tais recursos (como um App), o arquivo continua compatível com a venda
e distribuição em livrarias e bibliotecas.
Achamos muito
importante que a leitura seja mantida dentro da experiência de leitura,
sem transformá-la em um jogo (por mais que se incluam recursos, se eles não
forem obrigatórios e forem condizentes com a história, o livro continua sendo
um livro).
Além da
possibilidade dos recursos, pensamos que livros infantis são tão bonitos,
existe todo um trabalho de união das linguagens escrita e visual, e isso só
poderia ser mantido com o layout fixo.
NOME - Existe uma
confusão entre esse tipo e publicação e os aplicativos? Pq os livros da Pipoca
não são aplicativos?
PIPOCA - Existe,
sim. Escolhemos não fazer aplicativos pelos motivos expostos acima. Acreditamos
que jogos e livros devam continuar sendo experiências diferentes.
Por mais
que existam Apps no formato livro que preservem as características de livros,
eles são encontrados no meio dos jogos e não podem ser vendidos e distribuídos
pelas livrarias e bibliotecas.
Essa é uma
escolha complicada, apostamos em um formato, ainda não temos como saber se
fizemos a escolha certa.
NOME - Você acha
que os livros da Pipoca podem ser usados nas salas de aula? Como isso seria
possível?
PIPOCA - Sim.
Como qualquer outro livro, é possível que se trabalhe em sala de aula com as
crianças.
É possível
fazer rodas de leitura para discussões com as crianças a respeito da história
ou das ilustrações, normalmente.
Mas é
possível ir além disso, observando a sonoplastia e a contação da história, por
exemplo, para fazer um trabalho em que as crianças narrem e produzam a
sonoplastia de outros livros.
É possível
usar os recursos interativos para instigar a imaginação das crianças,
levando-as a tentar descobrir o que acontecerá quando se ativar este ou aquele
botão interativo.
Em sala de
aula o que manda é a criatividade do professor, tudo depende da maneira como
cada um trabalha. Caso a ideia seja que cada criança leia autonomamente (seja
sozinha ou em grupo), o iPad tem um recurso que se chama ‘Acesso Guiado’, que
permite bloquear seu uso em apenas um aplicativo. Agora, imagine que legal
seria, por exemplo, usar um projetor para ampliar o livro e caixas de som para
amplificar o som dos recursos sonoros! É possível transformar a leitura quase
num evento literário em sala de aula!
Mas, caso não
seja esta a proposta, os livros da Pipoca são livros, podem ser usados
tranquilamente em sala, visando o incentivo à leitura, mesmo.
São livros,
apenas em outro suporte.
PIPOCA - Existe,
sim. Quando recebemos um original ele é avaliado editorial e pedagogicamente.
Nós
estabelecemos alguns critérios para avaliar o livro que têm base tanto nas
teorias de desenvolvimento e aprendizagem (especialmente a de Vigotski), quanto
nos descritores de habilidades leitoras. Com isso não vamos, de maneira
nenhuma, direcionar o trabalho do autor ou do ilustrador para esta ou aquela
fase da infância, mas vamos usar esses conhecimentos como ferramentas pra
escolhas editoriais, como definir o melhor uso dos recursos ou a tipografia,
por exemplo.
Nós pensamos
que é bacana que os livros ofereçam desafios para a leitura, mas não podemos
colocar uma história com uma textualidade complexa junto com ilustrações
conceituais, uma fonte rebuscada e recursos em excesso!
Precisamos
definir onde estarão os desafios e, para isso, temos que pensar quem será a
criança leitora.
O
acompanhamento pedagógico, então, segue todo o processo de produção dos
livros.
NOME - Você
acredita que os livros digitais da Pipoca são capazes de substituir os livros
físico, ou vocês acreditam que são coisas que podem coexistir?
PIPOCA - Pois
é, existe essa ideia de que os digitais vão substituir os impressos, mas nós
não temos a menor intenção em substituir nada.
Livros
físicos e digitais, no nosso entender, podem coexistir sem nenhum
problema e, na verdade, isso que é o legal de existir livros digitais.
Vemos que muita gente tem esse medo, vê um como ameaça do outro.
Pra gente, o que importa é que a criança tenha a possibilidade e se aproximar da leitura para, com isso, poder desenvolver esse gosto. Tem quem vá ter mais incentivo acessando livros físicos, tem quem vá ter mais incentivo usando o meio digital e, na prática, quem gosta de um também pode gostar do outro. É aqui que entra o ponto das crianças saberem se querem ler ou jogar.
Pra gente, o que importa é que a criança tenha a possibilidade e se aproximar da leitura para, com isso, poder desenvolver esse gosto. Tem quem vá ter mais incentivo acessando livros físicos, tem quem vá ter mais incentivo usando o meio digital e, na prática, quem gosta de um também pode gostar do outro. É aqui que entra o ponto das crianças saberem se querem ler ou jogar.
Podemos pegar
um exemplo prático. Eu (Isabela), sempre incentivei meus filhos a lerem e também
sempre deixei eles usarem o iPad, guardados alguns cuidados e restrições. Com
isso, hoje, de vez em quando eles pegam o aparelho para ler, de vez em quando
para jogar! Depende da vontade deles,
não existe obrigação da leitura, existe o gosto por ela e o desejo (ou
necessidade!) de ler, que pode ser satisfeito com livros, sejam eles digitais
ou impressos.
Nós, adultos,
podemos escolher em que suporte vamos ler, por que as crianças não podem? Por
que temos que determinar um ou outro suporte para que elas leiam? Ler livros
digitais nunca fez com que meus filhos se afastassem dos impressos, pelo
contrário. Aqui em casa, às vezes uma leitura chama a outra e eles param de
usar o iPad para buscar algum livro que lembraram.
Não podemos
esquecer que estamos falando de uma geração que é chamada de nativos digitais!
Para eles, não há fronteiras entre o ambiente digital e o analógico.
NOME - Vocês acreditam que existem pais que podem
não entender que a leitura na plataforma digital não é apenas o lazer pelo
lazer, mas é o mesmo que ler um livro físico? Como mudar essa cultura?
PIPOCA - A
cultura atual usa a tecnologia apenas como entretenimento, como algo que não se
aprofunda. Mas nós, como sociedade, usamos a internet para nos informar, para trabalhar, para
quase tudo. Por que não usar para buscar leituras que nos interessem?
Achamos que é
um caminho que está sendo percorrido... Podemos pensar, por exemplo, que a
maioria dos pais, hoje, incentiva os filhos a fazer pesquisas via internet
(seja em trabalhos de escola ou para tirar alguma dúvida) Ainda falta
bastante para conseguir chegar a essa cultura de leitura no digital sem
preconceito.
E, na verdade,
nem sei se acho possível que o preconceito acabe... Mas o fato é que para
quem nasceu imerso em toda essa tecnologia não tem tanto preconceito quanto
nós, que passamos por um processo de transição.
Nos parece que o único caminho
para mudar essa cultura é oferecendo conteúdo, assim, quando os nativos
digitais forem procurá-lo, ele estará lá. Não sei se você se lembra do começo
da internet, assim, como coisa mais acessível, mas ainda bem restrita. Lembro
que estávamos na escola e só o menino mais rico da sala tinha.
Depois, todos
começamos a ter... era discada... e não tinha esse conteúdo todo. Pesquisas
tinham pouquíssimas fontes! Esse conteúdo foi sendo construído e, hoje, você
pode passar o dia nas redes sociais ou pode visitar museus, ter acesso a livros
de domínio público, etc. Vai da escolha. A maioria das pessoas passa o tempo
nas redes sociais? Sim, mas isso não invalida de forma alguma os museus que
disponibilizaram seus acervos para quem tiver interesse em usar a rede para
outras coisas. Porque, no fim, tem espaço pra tudo.
NOME
- Sobre o mercado de digitais no Brasil, vocês acreditam que haverá um boom, ou
o crescimento será constante?
PIPOCA - É
uma incógnita... Nós apostamos no crescimento, sim, mas não achamos que veremos
um boom. Pensamos
mais em um processo do que em uma revolução.
NOME - Quais is grandes desafios de trabalhar com livros no Brasil; de trabalhar com livros infantis no Brasil?; e de trabalhar com livros digitais infantis no Brasil?
PIPOCA – São
muitos! Acho que trabalhar com livros infantis digitais no Brasil, ao menos
atualmente, reúne todos esses desafios...
Não há
incentivo nenhum e há lojas em que é preciso ter um cadastro na receita federal
norte-americana, o que aumenta nossos gastos, já que precisamos declarar
imposto (mesmo se for de isento) lá também... e, se não for isento, temos de
pagar imposto.
O mercado
editorial brasileiro contrata muitas obras internacionais (isso vem mudando, o
que é ótimo, graças a editoras menores) então, muitas vezes, não importa o
conteúdo do livro, mas quem o escreveu.
Quando
falamos de infantis, isso se mostra ainda mais forte. E, quando falamos de
infantis digitais, enfrentamos
isso e a pressão para que o preço seja baixo (ou de graça) o que é muito
difícil sendo que temos (muitos) custos de produção e temos as vendas ainda
inferiores ao necessário para sustentar esse tipo de mudança nos valores.
Além do preconceito
já mencionado e, também, da dificuldade que boa parte dos adultos têm de
entender onde e como se compra livros digitais.
A CEO da
Pottermore falou uma coisa na feira de Bologna do ano passado que nos marcou
muito: os livros digitais infantis vão começar a vender, de verdade, quando os
nativos digitais tiverem filhos. Enquanto isso, são só desafios.
NOME - Quais as
perspectivas, não só dos novos títulos e do prelo, mas do ponto de vista do
mercado e do que vocês esperam mesmo?
PIPOCA - Temos
o oitavo livro do nosso catálogo em produção, quase pronto para ser publicado.
Ele é o último da primeira leva de publicações.
Depois, esperamos
começar a fazer eventos, de forma a apresentar diretamente ao público infantil
a possibilidade de leitura no digital, como mais uma coisa que eles podem fazer
nos equipamentos.
Um
ponto que sempre pensamos é no tanto que os livros digitais unem o
incentivo à leitura com a inclusão digital.
Daí que veio
a ideia de fazer uma segunda leva de publicações (que já está em produção), com
livros que vamos disponibilizar gratuitamente.
Com isso,
vamos avaliando a reação das crianças aos nossos livros, vamos avaliando o
mercado de livros digitais (que ainda é um mistério para todo mundo!) e vamos
escrevendo e viabilizando novos projetos, porque ideia é uma coisa que não
falta na nossa cabeça!
NOME - Onde os livros da Pipoca podem ser encontrados?
PIPOCA -
Nas seguintes lojas digitais:
NOME - Onde os livros da Pipoca podem ser encontrados?
PIPOCA -
Nas seguintes lojas digitais:
- iBooks: aplicativo da Apple que funciona em iPads, iMacs ou Macbooks; neles, os nossos livros são vistos em sua concepção original, ou seja, enriquecidos com interação, sonoplastia e animações.
- Play Livros: aplicativo do Google que funciona em tablets (iPads e Androids) e em PCs; neles, os nossos e-books são estáticos, ou seja, sem recursos de interação, sonoplastia e animação.
- Kobo: no aplicativo da Kobo, que funcionam em tablets (iPads e Androids), os nossos livros também são estáticos. Mas, aqui, há uma informação importante para acrescentar: a Kobo trabalha tanto com aplicativo, quanto com e-readers. E-readers, têm a aparência muito semelhante à dos tablets, mas é um aparelho cuja principal função é mesmo a leitura. Os livros da Pipoca só podem ser lidos no aplicativo Kobo e não nos e-readers.
Nas seguintes bibliotecas digitais (onde os livros estão disponíveis, em versão simplificada):
- Leiturinha Digital (exclusivamente de títulos infantis);
- Árvore de Livros;
- Nuvem de Livros;
- Claro Leitura;
- Oi Bookstore.
Clique aqui e conheça o catálogo completo da Pipoca!
Editora Pipoca
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