28 de set. de 2015

Fundadoras da Editora Pipoca contam como é ser uma editora infantil 100% digital no Brasil: 'Pra gente, o que importa é que a criança tenha a possibilidade de se aproximar da leitura para, com isso, poder desenvolver esse gosto'.

Como seria se os livros falassem, mexessem ou contassem suas próprias histórias? Como seria interagir com as árvores, pássaros e peixes das histórias infantis, entrando na história de verdade? 

Bom, essa realidade não é nada distante para Suria Scapin e Isabela Parada, fundadoras da Editora Pipoca, que nasceu com a confiança de que, dessa maneira, a literatura leva mais longe, as informações ficam mais interessantes e as aventuras na cozinha, mais divertidas!

Para celebrar o Mês das Crianças, o Blog No Mundo Editorial convidou Suria e Isabela para um bate-papo sobre essa nova forma de pensar livros infantis, 100% digital. 
A Pipoca acredita na diversão de uma boa leitura como forma de acender a imaginação infantil e proteger a infância e sua potência criadora, ajudando papel ativo da criança em seu próprio crescimento.  Por isso, seus livros têm um formato especial, que trazem mais do que textos pedagogicamente trabalhados e ilustrações elaboradas que acompanham a linha editorial; mas trazem também sons, música, imagens animadas, elementos interativos e outros elementos trazidos para enriquecer uma boa história. 

Leia abaixo a entrevista na íntegra e seja um pipoqueiro!


NO MUNDO EDITORIAL - A Pipoca é uma editora 100% digital. O que motivou vocês a apostarem nessa escolha? 
PIPOCA - Atualmente as crianças têm acesso às tecnologias portáteis muito cedo. O número de vendas de smartphones e tablets no Brasil é bastante considerável e, em tais dispositivos, o que vemos é uma farta opção de jogos e pouquíssimas opções de livros infantis. Existem livros que mais se assemelham a jogos, mas isso não supera o espaço da leitura.
Uma criança sabe quando quer brincar e quando quer ler. E sabe a diferença entre as duas atividades. Apostamos no formato digital porque acreditamos na importância da leitura, independente do suporte em que ela se dê. 

NOME - Como surgiu a ideia da Pipoca? 
PIPOCA - A ideia da Pipoca surgiu quando eu (Suria), trabalhava em uma editora de livros didáticos que estava começando a entrar na produção de paradidáticos e, então, comecei a me incomodar fortemente com os critérios de seleção dos livros, que levavam em consideração quase que somente a possibilidade de entrar em algum programa de incentivo do governo. 
Acho que as compras governamentais são uma excelente forma de movimentar o mercado e fazer com que os livros cheguem nas mãos das crianças, mas não podem ser a única opção.
Não entendia porque não poderíamos pensar em projetos digitais, por exemplo. Então, pensei que eu poderia tentar isso, publicar livros de autores nacionais que fossem produzidos independente dos editais. Para isso eu precisaria de uma pedagoga, então, chamei a Isabela.
A ideia de ser uma editora digital nasceu junto com a ideia da editora em si.

NOME - Vocês fizeram a escolha de publicar os livros em um formato específico, o E-pub3. O que difere esse formato dos outros e por que fizeram essa escolha? 
PIPOCA - Escolhemos publicar em e-pub com layout fixo. Este formato mantém a diagramação do livro (como um arquivo PDF) e permite recursos como áudio, animação e interação.
Apesar de permitir tais recursos (como um App), o arquivo continua compatível com a venda e distribuição em livrarias e bibliotecas.
Achamos muito importante que a leitura seja mantida dentro da experiência de leitura, sem transformá-la em um jogo (por mais que se incluam recursos, se eles não forem obrigatórios e forem condizentes com a história, o livro continua sendo um livro).
Além da possibilidade dos recursos, pensamos que livros infantis são tão bonitos, existe todo um trabalho de união das linguagens escrita e visual, e isso só poderia ser mantido com o layout fixo. 

NOME - Existe uma confusão entre esse tipo e publicação e os aplicativos? Pq os livros da Pipoca não são aplicativos? 
PIPOCA - Existe, sim. Escolhemos não fazer aplicativos pelos motivos expostos acima. Acreditamos que jogos e livros devam continuar sendo experiências diferentes.
Por mais que existam Apps no formato livro que preservem as características de livros, eles são encontrados no meio dos jogos e não podem ser vendidos e distribuídos pelas livrarias e bibliotecas.
Essa é uma escolha complicada, apostamos em um formato, ainda não temos como saber se fizemos a escolha certa.

NOME - Você acha que os livros da Pipoca podem ser usados nas salas de aula? Como isso seria possível? 
PIPOCA - Sim. Como qualquer outro livro, é possível que se trabalhe em sala de aula com as crianças.
É possível fazer rodas de leitura para discussões com as crianças a respeito da história ou das ilustrações, normalmente.
Mas é possível ir além disso, observando a sonoplastia e a contação da história, por exemplo, para fazer um trabalho em que as crianças narrem e produzam a sonoplastia de outros livros.
É possível usar os recursos interativos para instigar a imaginação das crianças, levando-as a tentar descobrir o que acontecerá quando se ativar este ou aquele botão interativo.
Em sala de aula o que manda é a criatividade do professor, tudo depende da maneira como cada um trabalha. Caso a ideia seja que cada criança leia autonomamente (seja sozinha ou em grupo), o iPad tem um recurso que se chama ‘Acesso Guiado’, que permite bloquear seu uso em apenas um aplicativo. Agora, imagine que legal seria, por exemplo, usar um projetor para ampliar o livro e caixas de som para amplificar o som dos recursos sonoros! É possível transformar a leitura quase num evento literário em sala de aula!
Mas, caso não seja esta a proposta, os livros da Pipoca são livros, podem ser usados tranquilamente em sala, visando o incentivo à leitura, mesmo.
São livros, apenas em outro suporte.       

NOME - Existe um acompanhamento pedagógico na edição dos livros? Funciona como nos livros físicos? 
PIPOCA - Existe, sim. Quando recebemos um original ele é avaliado editorial e pedagogicamente. 
Nós estabelecemos alguns critérios para avaliar o livro que têm base tanto nas teorias de desenvolvimento e aprendizagem (especialmente a de Vigotski), quanto nos descritores de habilidades leitoras. Com isso não vamos, de maneira nenhuma, direcionar o trabalho do autor ou do ilustrador para esta ou aquela fase da infância, mas vamos usar esses conhecimentos como ferramentas pra escolhas editoriais, como definir o melhor uso dos recursos ou a tipografia, por exemplo.
Nós pensamos que é bacana que os livros ofereçam desafios para a leitura, mas não podemos colocar uma história com uma textualidade complexa junto com ilustrações conceituais, uma fonte rebuscada e recursos em excesso!
Precisamos definir onde estarão os desafios e, para isso, temos que pensar quem será a criança leitora.
O acompanhamento pedagógico, então, segue todo o processo de produção dos livros. 

NOME - Você acredita que os livros digitais da Pipoca são capazes de substituir os livros físico, ou vocês acreditam que são coisas que podem coexistir? 
PIPOCA - Pois é, existe essa ideia de que os digitais vão substituir os impressos, mas nós não temos a menor intenção em substituir nada.
Livros físicos e digitais, no nosso entender, podem coexistir sem nenhum problema e, na verdade, isso que é o legal de existir livros digitais. Vemos que muita gente tem esse medo, vê um como ameaça do outro. 
Pra gente, o que importa é que a criança tenha a possibilidade e se aproximar da leitura para, com isso, poder desenvolver esse gosto. Tem quem vá ter mais incentivo acessando livros físicos, tem quem vá ter mais incentivo usando o meio digital e, na prática, quem gosta de um também pode gostar do outro. É aqui que entra o ponto das crianças saberem se querem ler ou jogar. 
Podemos pegar um exemplo prático. Eu (Isabela), sempre incentivei meus filhos a lerem e também sempre deixei eles usarem o iPad, guardados alguns cuidados e restrições. Com isso, hoje, de vez em quando eles pegam o aparelho para ler, de vez em quando para jogar!  Depende da vontade deles, não existe obrigação da leitura, existe o gosto por ela e o desejo (ou necessidade!) de ler, que pode ser satisfeito com livros, sejam eles digitais ou impressos.
Nós, adultos, podemos escolher em que suporte vamos ler, por que as crianças não podem? Por que temos que determinar um ou outro suporte para que elas leiam? Ler livros digitais nunca fez com que meus filhos se afastassem dos impressos, pelo contrário. Aqui em casa, às vezes uma leitura chama a outra e eles param de usar o iPad para buscar algum livro que lembraram.
Não podemos esquecer que estamos falando de uma geração que é chamada de nativos digitais! Para eles, não há fronteiras entre o ambiente digital e o analógico.

NOME - Vocês acreditam que existem pais que podem não entender que a leitura na plataforma digital não é apenas o lazer pelo lazer, mas é o mesmo que ler um livro físico? Como mudar essa cultura? 
PIPOCA - A cultura atual usa a tecnologia apenas como entretenimento, como algo que não se aprofunda. Mas nós, como sociedade, usamos a internet para nos informar, para trabalhar, para quase tudo. Por que não usar para buscar leituras que nos interessem?
Achamos que é um caminho que está sendo percorrido... Podemos pensar, por exemplo, que a maioria dos pais, hoje, incentiva os filhos a fazer pesquisas via internet (seja em trabalhos de escola ou para tirar alguma dúvida) Ainda falta bastante para conseguir chegar a essa cultura de leitura no digital sem preconceito. 
E, na verdade, nem sei se acho possível que o preconceito acabe... Mas o fato é que para quem nasceu imerso em toda essa tecnologia não tem tanto preconceito quanto nós, que passamos por um processo de transição. 
Nos parece que o único caminho para mudar essa cultura é oferecendo conteúdo, assim, quando os nativos digitais forem procurá-lo, ele estará lá. Não sei se você se lembra do começo da internet, assim, como coisa mais acessível, mas ainda bem restrita. Lembro que estávamos na escola e só o menino mais rico da sala tinha. 
Depois, todos começamos a ter... era discada... e não tinha esse conteúdo todo. Pesquisas tinham pouquíssimas fontes! Esse conteúdo foi sendo construído e, hoje, você pode passar o dia nas redes sociais ou pode visitar museus, ter acesso a livros de domínio público, etc. Vai da escolha. A maioria das pessoas passa o tempo nas redes sociais? Sim, mas isso não invalida de forma alguma os museus que disponibilizaram seus acervos para quem tiver interesse em usar a rede para outras coisas. Porque, no fim, tem espaço pra tudo.

NOME - Sobre o mercado de digitais no Brasil, vocês acreditam que haverá um boom, ou o crescimento será constante? 
PIPOCA - É uma incógnita... Nós apostamos no crescimento, sim, mas não achamos que veremos um boom. Pensamos mais em um processo do que em uma revolução.

NOME - Quais is grandes desafios de trabalhar com livros no Brasil; de trabalhar com livros infantis no Brasil?; e de trabalhar com livros digitais infantis no Brasil? 
PIPOCA – São muitos! Acho que trabalhar com livros infantis digitais no Brasil, ao menos atualmente, reúne todos esses desafios...
Não há incentivo nenhum e há lojas em que é preciso ter um cadastro na receita federal norte-americana, o que aumenta nossos gastos, já que precisamos declarar imposto (mesmo se for de isento) lá também... e, se não for isento, temos de pagar imposto.
O mercado editorial brasileiro contrata muitas obras internacionais (isso vem mudando, o que é ótimo, graças a editoras menores) então, muitas vezes, não importa o conteúdo do livro, mas quem o escreveu.
Quando falamos de infantis, isso se mostra ainda mais forte. E, quando falamos de infantis digitais, enfrentamos isso e a pressão para que o preço seja baixo (ou de graça) o que é muito difícil sendo que temos (muitos) custos de produção e temos as vendas ainda inferiores ao necessário para sustentar esse tipo de mudança nos valores. 
Além do preconceito já mencionado e, também, da dificuldade que boa parte dos adultos têm de entender onde e como se compra livros digitais.
A CEO da Pottermore falou uma coisa na feira de Bologna do ano passado que nos marcou muito: os livros digitais infantis vão começar a vender, de verdade, quando os nativos digitais tiverem filhos. Enquanto isso, são só desafios.  

NOME - Quais as perspectivas, não só dos novos títulos e do prelo, mas do ponto de vista do mercado e do que vocês esperam mesmo?
PIPOCA - Temos o oitavo livro do nosso catálogo em produção, quase pronto para ser publicado. Ele é o último da primeira leva de publicações. 
Depois, esperamos começar a fazer eventos, de forma a apresentar diretamente ao público infantil a possibilidade de leitura no digital, como mais uma coisa que eles podem fazer nos equipamentos. 
Um ponto que sempre pensamos é no tanto que os livros digitais unem o incentivo à leitura com a inclusão digital.
Daí que veio a ideia de fazer uma segunda leva de publicações (que já está em produção), com livros que vamos disponibilizar gratuitamente.

Com isso, vamos avaliando a reação das crianças aos nossos livros, vamos avaliando o mercado de livros digitais (que ainda é um mistério para todo mundo!) e vamos escrevendo e viabilizando novos projetos, porque ideia é uma coisa que não falta na nossa cabeça!  

NOME - Onde os livros da Pipoca podem ser encontrados?
PIPOCA - 
Nas seguintes lojas digitais:
  • iBooksaplicativo da Apple que funciona em iPads, iMacs ou Macbooks; neles, os nossos livros são vistos em sua concepção original, ou seja, enriquecidos com interação, sonoplastia e animações.
  • Play Livrosaplicativo do Google que funciona em tablets (iPads e Androids) e em PCs; neles, os nossos e-books são estáticos, ou seja, sem recursos de interação, sonoplastia e animação.
  • Kobo: no aplicativo da Kobo, que funcionam em tablets (iPads e Androids), os nossos livros também são estáticos. Mas, aqui, há uma informação importante para acrescentar: a Kobo trabalha tanto com aplicativo, quanto com e-readers. E-readers, têm a aparência muito semelhante à dos tablets, mas é um aparelho cuja principal função é mesmo a leitura. Os livros da Pipoca só podem ser lidos no aplicativo Kobo e não nos e-readers.
Nas seguintes bibliotecas digitais (onde os livros estão disponíveis, em versão simplificada):
  • Leiturinha Digital (exclusivamente de títulos infantis); 
  • Árvore de Livros;
  • Nuvem de Livros;
  • Claro Leitura; 
  • Oi Bookstore.
Clique aqui e conheça o catálogo completo da Pipoca! 


Editora Pipoca

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