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30 de mai. de 2011

Sobre a (não) polêmica dos livros adotados pelo MEC, que (não) ensinam português errado

Há semanas que ouvimos falar sobre a tal "polêmica" do livro didático que o Ministério da Educação e Cultura, o MEC, adotou e que ensina português "errado" às crianças brasileiras. 

E já faz algum tempo que aprendi a desconfiar de todas as manchetes sensacionalistas, principalmente aquelas contra o Governo. E o que vou postar aqui não tem NADA, absolutamente NADA a ver com se gosto ou não das políticas governamentais do PT; se votei ou não na Dilma ou qualquer coisa do gênero. O que este Blog e eu defendemos é totalmente apartidário.


Mas o que REALMENTE aconteceu? 

Dentre tantas críticas e absurdos que escutei por aí, resolvi ir a fundo na pesquisa antes de escrever este post. O que certamente a grande maioria das pessoas não fez antes de sair publicando as grandes bobagens que li por aí. Acho que minha atitude teve muito a ver com o bom senso, não só de jornalista de formação que sou, mas também de ser humano. Durante meu curso de jornalismo na PUC-SP, tive aula de linguística com um professor sensacional chamado Bruno Dallari. E foram essas aulas que me ensinaram sobre a importância e influência do tal PRECONCEITO LINGUÍSTICO. Nessas aulas, os trabalhos eram em campo: tínhamos que entrevistar a população de baixa renda e que não teve acesso aos estudos, e, a partir disso, analisar as variações linguísticas padronizadas que existem na Língua Portuguesa (e pasmem: elas realmente EXISTEM!), e que não podemos simplesmente ignorar porque aprendemos um dia na escola que a norma culta gramatical não é assim e pronto. 

Pra começar, olha bem o tamanho do Brasil. Cada vez que saímos de nossas respectivas cidades, parece que mudamos de universo, não é mesmo? Mesmo nas grandes cidades... Será que ninguém repara nas diferenças da maneira de falar entre paulistas e cariocas, por exemplo? Não precisa ser um grande estudioso da área para enxergar claramente que o Brasil é um país de muitas línguas.

Compartilho com vocês uma excelente explicação que li no blog Escreve Lola, escreva: sobre o caso do livro adotado pelo MEC, chamado Por uma Vida Melhor. Para começo de conversa, o livro não é destinado às crianças. Ele é adotado pelo programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). E, neste livro, há um capítulo denominado “Escrever é diferente de falar”, em que as autoras mostraram as regras de funcionamento de uma variedade coloquial falada do nosso português brasileiro. Ao contrário do que se anda dizendo por aí, o livro NÃO prega, em momento algum, que não se deva ensinar a gramática normativa ou a norma culta. E mais: ensina que por meio da discussão das outras variedades do português é que se contextualiza essa norma culta. 



Logo, o livro adotado pelo MEC NÃO é um absurdo, NÃO quer piorar o nosso ensino, NÃO quer tornar nossos alunos e crianças em seres ignorantes e NÃO faz parte de nenhuma teoria da conspiração absurda criada pela mídia no último mês. O Governo teve o bom senso (o que realmente não é muito comum por aqui, sejamos justos) de inserir o jovem dentro de seu contexto e ensinar a ele que, não é porque alguém fala "nóis vai", que a pessoa está simplesmente errada e merece sofrer preconceito da sociedade.
Se é para seguirmos a linha de raciocínio da imprensa irresponsável, então, alguém por favor, pode mandar o Maurício de Souza dar um fim no Chico Bento e sua turma? A imprensa precisa comunicá-lo de que ele está ensinando as crianças a se comunicarem de maneira incorreta e que é errado os personagens da roça falarem como as pessoas que vivem neste ambiente.



Tudo bem que a oposição existe para criticar o Governo e escancarar os absurdos (que são muitos, não vou negar) feitos pelo mesmo. Mas daí a imprensa comprar uma causa infundada e absurda dessas? É um salto muito grande, não acham? Atenção jornalistas, vou contar um segredo para vocês: a língua muda! UAU! Acostumem-se a isso, ou ficarão presos na ignorância para o resto de suas vidas! Sugestão: mudem com a língua!

E, no Brasil, quem é mesmo que fala errado? Os cariocas, que usam o pronome "Tu" de maneira inadequada; os paulistas, que pedem "dois pastel"; ou os nordestinos, que para nós, sulistas, parecem falar um dialeto particular? E vice-versa, aliás.


Que tal sermos um pouquinho razoáveis e analisarmos os fatos antes mesmo de criticá-los e formarmos as opiniões do resto do país? 



No meio dessa discussão boba, eu fico mesmo com a dica abaixo da querida editora Noele Rossi. E aconselho vocês a fazerem o mesmo...
PRONOMINAIS

"Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro."
(Oswald de Andrade)

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1) Para quem se interessa pelo assunto, recomendo MUITO a leitura do post "Os livro ensina, nóis aprende", no blog Escreve Lola, escreva. Nele, a autora convida o linguista Diego Jiquilin, do blog O que você faz com a sua língua?, que não só explica o fenômeno do Preconceito Linguístico com muito mais propriedade, como também disponibiliza o PDF do capítulo do livro que gerou a polêmica e críticas ao MEC e, é claro, ao governo. 

2) Um exemplo de formação de opinião extremamente tendenciosa e perigosa pela falta de apuracidade e verdade jornalística, foi a crítica feita por Alexandre Garcia no jornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo. Assista AQUI.