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26 de jun. de 2012

[Nelson Rodrigues] Acima do bem e do mal

No último post sobre Nelson Rodrigues, contei sobre minha escolha de tê-lo como objeto de estudo para meu TCC da faculdade de jornalismo e prometi deixar para vocês o editorial da revista que criei. E aqui, promessa é dívida. Então, segue abaixo.



Boa leitura!


ACIMA DO BEM E DO MAL
Talita Camargo


"É difícil dizer quando Nelson Rodrigues deixou de ser o reacionário “anjo pornográfico” para tornar-se um dos mais conhecidos autores nacionais, digno de homenagens e fonte citações a todo instante. Mas o fato é que, apesar do merecido reconhecimento, ele ainda é incompreendido pela maioria das pessoas, inclusive por aqueles que dizem admirá-lo.

Entender a linguagem rodrigueana é entender a essência do ser humano, por ele coloca na fala de seus personagens tudo aquilo de mais sórdido e sincero que passa na mente das pessoas comuns e que nunca sai de lá.

Nelson provou que era superior a qualquer classificação de obsceno e tarado. Chamá-lo de transgressor da moral e dos bons costumes é reduzí-lo justamente àquilo que ele tanto criticava. Ele era amoral e, portanto, enxergava a essência dos homens comuns e a colocava nos palcos, em forma de obra de arte.

Para ele, ser humano de verdade era ser feito de muita carne, ossos e, acima de tudo, de todos os sentimentos ao mesmo tempo.

O amor leva à ambição que acarreta o desejo que provoca a loucura que causa a traição que chega na culpa que atrai a morte que sente dor que procura o alívio que isso que aquilo que...

É aí que se encontra sua real importância no âmbito da literatura e do teatro brasileiros, justamente no mais óbvio dos lugares e onde ninguém nunca consegue enxergar. E como já não conseguiam desde sempre, ele escancarou nas nossas caras. E acabou mal entendido.

O reconhecimento de Nelson Rodrigues como gênio foi, sem dúvida, um grande passo do povo brasileiro. Mas só a verdadeira compreensão de suas obras é capaz de provar que ele, na insistência dos personagens anônimos e insignificantes, foi um apaixonado pela alma brasileira e, acima de tudo, pela universalidade do ser humano. "


P.S.: Para quem tiver curiosidade de ver fotos dessa revista, é só conferir o álbum.

23 de jun. de 2012

[Nelson Rodrigues] Finalmente Nelson!

Desde que comecei a levar este blog a sério cobro de mim mesma um post sobre Nelson Rodrigues. E como neste ano comemora-se o centenário do nascimento dele, não posso mais adiar esse compromisso.

Resolvi, então, dividir com vocês um pouco da minha relação com a vida e obra de Nelson Rodrigues, que foi objeto de estudo do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da Faculdade de Jornalismo da PUC-SP.

Lá era possível escolher o formato do TCC, que não precisava seguir os padrões e normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como na maioria dos cursos. Assim sendo, depois de muito pensar durante as férias de verão que antecederam meu último ano de graduação, escolhi fazer uma revista temática.  

Escolher o tema foi outro parto: precisava de algo comum ao jornalismo e à editoração para unir essas duas paixões. Foi quando meu pai entrou em casa com a mais nova edição de “A vida como ela é...”, de Nelson Rodrigues, que acabava de sair do forno pela Agir (Grupo Ediouro).

A Agir havia ganho o leilão dos direitos autorais das obras de Nelson Rodrigues, os quais pertenceram por muitos anos à Companhia das Letras. Vale ressaltar que a nova casa das obras Rodrigueanas não fez feio. Muito pelo contrário: os livros são lindos e muito bem preparados!

Mas, como ainda era estudante de produção editorial da Anhembi Morumbi, meu desejo na época era produzir a revista inteira, do começo ao fim: pesquisa acadêmica, textos jornalísticos, entrevistas, pesquisas iconográficas, tirar algumas fotografias, diagramação, produção gráfica... tudo! Esse era o momento de provar, a mim mesma, que o casamento das duas faculdades que eu tinha escolhido, era perfeito. E adivinhem? Eu não estava errada! :)

Comecei, então, meu trabalho de pesquisa acadêmica: determinação da bibliografia, relação de possíveis entrevistados, seleção de imagens etc. Os primeiros textos ficaram longos e acadêmicos demais. E a minha falta de experiência jornalística não me ajudava em nada. Por cursar as duas faculdades ao mesmo tempo, eu não trabalhava. Na época, achava que estava investindo na minha carreira e podia me dar esse luxo. Foi uma decisão certeira e trabalhosa. Por outro lado, como disse, a falta de experiência era um problema. Por isso, aproveito para ressaltar a importância dos professores e orientadores e colegas, de ambos os cursos, para me guiarem nesse momento, pois as informações eram muitas e eu estava perdida. 

A parte das entrevistas foi incrível: Joffre Rodrigues, Sonia Rodrigues, Paulo Roberto Pires, Ruy Castro, Cassiano Elek Machado... Foi um momento de descoberta incrível e especial: cada dia mais eu me via envolvida nesse universo Rodrigueano. Li todos os livros do autor (além, é claro, de sua biografia “O Anjo Pornográfico, leitura altamente recomendável), assisti todos os filmes relacionados à obra dele, e todas as peças de teatro em cartaz na época. Mergulhei de corpo, cabeça, alma e coração neste trabalho.

Outro momento que vale a pena lembrar foi a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que naquele ano homenageou justamente Nelson Rodrigues e que foi grande fonte de pesquisa, entrevistas e fotografias. 

Para produzir tal revista, minha grande inspiração era a “Entrelivros”, extinta publicação da Duetto Editorial (também do Grupo Ediouro), que fazia esporádicas edições temáticas sobre determinados autores. Foi assim que nasceu a “Em Cena”, nome da minha revista, que trouxe, em seu primeiro número, a história da vida e obra de Nelson Rodrigues.



O processo de criação do TCC que escolhi fazer foi muito mais lento, demorado e trabalhoso do que de costume, justamente porque tive que aprender, sem experiência alguma, a fazer uma revista. Não imaginei, na minha ingenuidade, o trabalho que é fazer uma revista desse porte sozinha. Talvez seja por isso que hoje em dia valorizo tanto o trabalho em equipe, cada um no seu quadrado e todos no mesmo círculo.

O conceito da minha revista era que cada edição fosse exclusiva sobre um autor da literatura nacional, numa periodicidade trimestral. Levar o projeto adiante seria bastante complicado porque, infelizmente, publicações impressas vivem de anunciantes, o que, na época, era algo bem distante do meu conhecimento.

Mas o resultado final valeu a pena! Rendeu uma revista de 64 páginas, com acabamento gráfico bem bacana! Hoje, cinco anos depois e com alguma experiência profissional nas costas, vejo erros claros nessa revista que ficou só na primeira edição. Relendo o material, percebo falta de revisão, excesso de texto, imagens em baixa resolução, alinhamento que não agrada a leitura e uma série de outros pontos que não seriam aprovados por uma editoria competente.

Porém, na época, fui aprovada com 9,5 e muitos elogios pelo resultado final que, além de tudo, me proporcionou maior contato com as obras de Nelson Rodrigues, permitindo assim, que eu me apaixonasse pelos seus textos.

No próximo post, vou publicar o editorial da revista “Em Cena” para dividir com vocês o que eu entendo de Nelson Rodrigues.

Enquanto isso, deem uma olhadinha no álbum e vejam como ficou o meu TCC (só não vale rir, hein? Rs!)