Há dias estou adiando comentar o assunto da matéria publicada na Folha de S. Paulo, sobre a análise financeira do setor livreiro, que não é clara.
A matéria aponta as várias falhas do nosso mercado na hora de apurar os reais números de vendas de livros no país.
Vale a pena comentar que já estava mais que na hora de alguém, com o mínimo de bom senso, tomar as rédeas da situação. E se ninguém do mercado interno era capaz de fazer isso, então, as empresas estrangeiras são muito bem-vindas!
Para quem não sabe, até o presente momento, os números divulgados nas listas de mais vendidos, incluindo as principais, como Veja e Publishnews, são baseadas apenas na palavra das livrarias: essa semana vendemos tanto disso, tanto daquilo e um tantinho daquele outro.
E assim vem sendo há anos: o mercado editorial inteiro se constrói a partir dessas listas e em busca de ultrapassar os números nelas divulgados, sem a menor responsabilidade de se averiguar se determinadas informações são válidas ou não. Não há nenhuma instituição de mereça credibilidade no setor de pesquisas por trás destes números divulgados: eles falam e nós acreditamos.
O Brasil é a bola da vez. E não dá mais para levar o negócio do livro, que atingiu dimensões gigantescas, de maneira amadora.
Me espantou a demora para que as empresas estrangeiras despertassem interesse em averiguar os números reais do nosso mercado. E assim surgiu o interesse da Nielsen e GfK, duas das maiores empresas de pesquisas do mercado do mundo, que planejam começar a medir as vendas de livros no Brasil ainda neste ano.
Por isso, vamos acompanhar a nova análise do setor, desejando ter resultados de fontes de pesquisas mais sérias e profissionais.
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Mais vendidos?
PATRÍCIA CAMPOS MELLO RAQUEL COZER DE SÃO PAULO A Nielsen e a GfK, duas das maiores empresas de pesquisas de mercado do mundo, planejam começar a medir as vendas de livros no Brasil ainda neste ano. Hoje, o mercado brasileiro não é aferido de forma confiável por nenhum instituto do gênero e depende de dados de editoras e livrarias, que nem sempre informam os números verdadeiros. Num momento em que o mercado editorial brasileiro chama a atenção internacionalmente-a exemplo da aquisição de 45% da Companhia das Letras pelo grupo britânico Penguin-, a falta de dados concretos prejudica decisões editoriais e interfere em seu crescimento. "Hoje, o processo é impreciso e lento. Só sabemos números de vendas pelas livrarias de forma aproximada", diz Roberto Feith, vice-presidente do Snel (sindicato dos editores) e diretor presidente da editora Objetiva. "Com a Nielsen, teremos em tempo real a venda por título, o que ajudará a evitar a falta de livros nas lojas e o desperdício de tiragens", diz. REFERÊNCIA A empresa americana trabalha para trazer ao Brasil o BookScan, sistema que é referência nos Estados Unidos e no qual se baseiam listas de best-sellers conceituadas como a do "New York Times". Há três anos, segundo Feith, o Snel pediu à Nielsen um serviço similar ao prestado a editoras e livrarias espanholas. Na época, a empresa informou que não poderia oferecer o serviço aqui. No fim do ano passado, a empresa americana procurou o sindicato com um esboço de projeto, que deve ser apresentado com detalhes até o final deste mês. "Já temos o interesse das editoras. Agora analisamos os custos internos. O projeto deve ir para a frente neste ano", disse à Folha uma fonte da Nielsen. A empresa ainda não contatou livrarias -justo o braço do mercado que pode fornecer os principais dados para as análises. Já a alemã GfK, presente em mais de cem países, afirma estar em "fase bastante avançada" nesse ponto. "Já temos parceria com vários varejistas. Em 2012, começaremos a aferir o mercado de livros no Brasil", disse à Folha José Guedes, presidente da GfK no Brasil. Uma das lojas parceiras é a Livraria Cultura, que já trabalha com a GfK nas áreas de games e música. A Nielsen também já atua em outros segmentos no país. |
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Análise financeira do setor não é clara
Pesquisa de produção e vendas do mercado editorial, realizada pela Fipe, tem participação de 141 de 498 editoras
DE SÃO PAULO
Um dos fatores que dificultam a aferição de números do mercado editorial brasileiro é o regime de consignação com o qual a maior parte das livrarias do país trabalha.
As lojas recebem livros das editoras sem pagar por eles. Só pagam pelas cópias que forem comercializadas ao cliente; a sobra volta, meses depois, para a editora.
Segundo Fábio Sá Earp, economista da UFRJ que há anos acompanha a evolução do mercado editorial, muitas livrarias demoram a notificar as editoras das vendas, de forma a adiar o pagamento e manter mais capital de giro.
O resultado é que, com frequência, a própria editora não sabe o quanto vendeu.
Como não há no Brasil uma aferição de vendas no ato da compra, como a que a Nielsen e a GfK planejam trazer, são as editoras, nem sempre bem informadas, que fornecem dados da pesquisa anual do setor.
Divulgada sempre no meio do ano, a Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial, elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), também depende da boa vontade dos pesquisados.
A Fipe envia questionários eletrônicos às editoras, que fornecem as informações. É difícil garantir a exatidão dos dados. Nenhuma editora tem capital aberto no país, ou seja, elas não têm obrigação de divulgar esses números.
E grande parte delas não responde aos questionários. De 498 editoras do país que atendem aos critérios da Unesco (edição de pelo menos cinco títulos por ano e produção de ao menos 5.000 cópias), só 141 responderam o questionário de 2010.
Os números que saem daí são, portanto, imprecisos, apesar dos cuidados da Fipe.
Segundo a estimativa, as editoras faturaram R$ 4,505 bilhões em 2010, um crescimento de 2,63% em relação a 2009. No total, foram publicados 55 mil títulos novos ou reeditados -uma média de 150 títulos por dia.
"O levantamento da Fipe tem uma restrição fundamental: as editoras têm medo de que os concorrentes tenham acesso aos dados que passam, e acabam omitindo muita coisa", diz Sá Earp. "Ainda não temos uma análise financeira clara do setor."
Nos EUA, era a mesma coisa até a Nielsen lançar o BookScan, em 2001. Antes, a lista de best-sellers do "New York Times", por exemplo, era feita sem os números totais de vendas de cada título. O jornal fazia uma pesquisa por amostragem, em centenas de livrarias, e publicava o ranking sem números totais -tal como é hoje no Brasil.
Hoje, a Nielsen consegue aferir nos EUA números correspondentes a 75% das vendas em livrarias. As listas publicadas no Brasil, como a do site especializado Publishnews, incluem dados de lojas cujas vendas correspondem a 35% da comercialização em livrarias no país.
uau! Eu não sabia que os dados da Veja e Publisher eram baseados apenas na "palavra" de livrarias...
ResponderExcluirEntão os dados devem mesmo ser completamente divergentes da realidade... o que é uma pena em um setor que tem crescido tanto (e que poderia, talvez, estar crescendo ainda mais)...
Tomara que consigam fazer alguma coisa com mais credibilidade - que nos passe números mais condizentes com a realidade!
Beijos,
Nanie - Nanie's World
Pois é! O mercado editorial brasileiro é enorme e, ao mesmo tempo, engatinha... nao dá pra entender! Mas espero q o quadro mude!
ExcluirA Nielsen Bookscan é a maior "invensão", na minha opinião, depois da imprensa. Sem o BookScan eu não faria o meu trabalho. Já era hora de a NBS chegar ao Brasil.
ResponderExcluirConcordo, James! Impossível de levar um mercado livreiro a sério sem uma empresa para fazer o trabalho sério. Quem sabe agora, o mercado editorial brasileiro começa a ser menos amador! Estamos na torcida!
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