23 de nov. de 2010

[Dica de outras boas leituras] E quem disse que os tablets não são os livros da nova geração?

O PublishNews da semana passada trouxe um artigo bastante interessante, escrito por Mike Shatzkin, que tem mais de 40 anos de experiência no mercado editorial, é fundador e diretor-presidente da consultoria editorial The Idea Logical Co., com sede em Nova York, e diariamente acompanha e analisa os desafios e as oportunidades dessa nova era digital.

O post trata da relação livros infantis + e-readers. Eu pude comprovar que isso essa união dá samba pessoalmente quando, há poucos meses, vivi uma experiência die 15 dias com minha afilhada, de 2 anos e meio, e seu irmãozinho, de apenas 1 ano; que sabiam mexer melhor no iPad da mãe deles do que eu!
Essa mistura dá uma ótima receita. Que tal experimentá-la?



Livros infantis impressos X tablets

Esse post vai discutir uma ideia que eu já tinha mesmo antes da notícia dessa manhã (1/11) sobre as novidades no cenário de e-products. Sempre fui meio cético em relação aos enhanced e-books, baseados no meu  palpite de que não funcionariam há 15 anos quando apareceram os CD-Roms. Mas é cada vez mais óbvio que produtos estilo CD-Rom podem funcionar muito bem com livros infantis. Na verdade, estou começando a pensar que enhanced e-books ou produtos estilo aplicativos poderiam superar os livros como suporte preferido em pouquíssimo tempo. Menos de dez anos.
Os motivos por ser cético em relação aos enhanced e-books (ou enriched, um termo recente que ouvi e que pode ser melhor) é porque livros adultos são escritos como experiências de leitura de narrativas sem a intenção de serem interrompidas para serem lidos por pessoas que valorizam a experiência imersiva (Nem todos. Mas a maioria dos livros que pensamos ser best-sellers ou literatura). Meu palpite é que será difícil mudar muitas das horas de consumo agora devotadas à leitura imersiva por outra coisa bem diferente. E vejo isso como um desafio qualitativamente diferente do que a mudança da própria leitura imersiva de um mecanismo de distribuição (papel) para outro (telas).


A razão pela qual o material infantil não sobreviveu no período CD-Rom há 15 anos foi a complexidade do mecanismo de distribuição. Era preciso estar no computador, o que normalmente significava um desktop. Era preciso carregar o CD-Rom, que na maioria dos computadores (porque poucos eram Macs na época) exigiam navegação adicional antes da reprodução. Esses produtos não eram realmente acessíveis a crianças, mesmo se a programação contida neles fosse dirigida a esse público.
Mas esses problemas não continuam nos "livros" para crianças (se for assim que você quiser chamá-los) que estão migrando para iPad, smartphone ou, agora, o NOOKcolor (que, eu acho, é como seus donos gostariam de chamá-lo).
O grau de imersão que você consegue num livro é diretamente proporcional à fluência com a qual ele é lido. Isso significa quanto mais jovem você for, mais provável que aceite uma experiência de leitura interrompida.
E como os aparelhos ficam mais baratos e mais ubíquos, pais e filhos vão aprender rapidamente como as experiências interativas podem ser divertidas, instrutivas e acessíveis.
Comecei a escrever esse post no fim de semana porque ficamos sabendo de várias iniciativas empreendedoras que estavam focadas no desenvolvimento de materiais infantis dessa forma.  Depois, o Publishers Lunch dessa manhã (1/11) nos contou a história do que está acontecendo na Callaway, o que só fortaleceu a certeza de que há muito dinheiro sendo colocado nessa ideia.
Resumindo, cheguei ao ponto de vista de que o mercado de livros juvenis vai migrar para produtos digitais "enhanced" de forma muito mais rápida do que a narrativa adulta e que, como resultado, a criação e publicação para os vários mercados de livros infantis estará cada vez mais a cargo de novas empresas e cada vez menos a cargo das editoras de livros.
A reportagem sobre a Callaway Digital Arts que saiu no Publishers Lunch hoje (1/11) é incrível.  Eles não só garantiram 6 milhões de dólares de financiamento do iFund liderado pela Kleiner Perkins Caufield & Byers, mas também ganharam 30 milhões do programa "Pronto para Aprender" do Departamento de Educação. Com esse empurrão, a Callaway diz que planeja produzir 150 aplicativos anuais, daqui a dois anos. Estão sendo vistos pela Apple como "parceiro estratégico" para ajudar o iPad a "transformar a educação".
Apesar de ser a mais famosa, a Callaway não está sozinha no foco sobre o mercado de conteúdo para crianças construído a partir de livros.
A Oceanhouse Media está construindo o que parece ser um negócio comparável de uma forma completamente diferente.  Em vez de procurar investidores para seu capital, a Oceanhouse conseguiu se autocapitalizar construindo uma rede de desenvolvedores dispostos a trabalhar por uma participação nos projetos que estão desenvolvendo. Eles conseguiram fazer acordos com a Hay House (que não é dirigido a crianças, em princípios), seus vizinhos em San Diego. E conseguiram os direitos do Dr. Seuss e Berenstain Bears. Numa conversa com eles, me pareceu que conseguiriam entregar novos produtos no mesmo nível que a Callaway, mas muito antes do que esse prazo de dois anos.
A Trilogy Studios possui sócios que dirigem estúdios de games na Electronic Arts, Fox Interactive e Vivendi Universal Games, tendo lançado recentemente o produto infantil de maior sucesso até o momento, um MMO (que significa um jogo "Massive Multiplayer Online") baseado num filme de animação bastante famoso. Eles expandiram o portfólio para incluir livros interativos de histórias e jogos sociais, além de contratarem o editor veterano Marc Jaffe (até recentemente da Rodale) para garantir os direitos de algumas das marcas mais reconhecidas de entretenimento e do mercado editorial para futuros desenvolvimentos digitais.
Rick Richter, até recentemente o chefe de publicações para crianças da Simon & Schuster, criou uma concorrente no setor chamada Ruckus Media Group. Eles estão fazendo aplicativos para Apple e Android, compraram os direitos do Rabbit Ears Library (clássicos infantis lidos por celebridades) e estão contratando autores com conteúdo original.
Smashing Ideas é um site, estúdio de games e aplicativos que já está no mercado há 14 anos. Eles trabalham com marcas voltadas para a juventude como Hasbro, Nickelodeon e Disney há vários anos. Agora fizeram um acordo para desenvolver projetos com a Random House e também desenvolvem projetos em cima de livros em domínio público com aplicativos, entre eles a Guerra dos Mundos, O Livro da Selva e o Mágico de Oz. Isso não é nenhuma surpresa porque Ben Roberts, que agora lidera a divisão de e-book, ajudou a criar Alice para o iPad.
Todo esse investimento e todo esse desenvolvimento deve ter a mesma visão que eu. As crianças serão o grande mercado para esse tipo de produto. A narrativa linear pode ser imersiva somente até o ponto em que o ato de leitura em si for fácil e sem esforços. Não é possível se perder na história se você precisa ficar procurando palavras ou relendo com frequência sentenças para entender o significado.
Isso significa que é muito mais difícil para um jovem imergir na história só com palavras no papel. É por isso que os livros infantis oferecem muito mais do que isso: imagens, claro, mas também pop-ups e vários outros elementos tridimensionais, até onde podem ser distribuídos em algo que é fundamentalmente papel amarrado.
É possível dizer que as crianças sempre possuíram "enhanced books"!
Os novos aparelhos têm muito mais capacidade do que os CD-Roms para se relacionar com mais do que palavras - formas que a maioria dos que amam a leitura imersiva poderiam achar distrativas ou chatas, mas que as crianças adoram. A navegação intuitiva com touchscreen, um desenvolvimento relativamente recente, facilita a participação e a interação com uma mente ativa que ainda não aprendeu suficiente linguagem para trabalhar confortavelmente com dicas escritas.
Não vivo numa atmosfera centrada nas crianças, mas estou consciente de que nos dois últimos anos os pais que pensaram que seus filhos eram jovens demais para os gastos de conectividade de um iPhone concordariam em comprar um iPod Touch, que faz o mesmo exceto as ligações (e, portanto, não tem nenhuma conta mensal). Um amigo meu que continua defensor da "mídia antiga" recentemente me perguntou o que eu achava de um Touch para seu filho de 7 anos, que não queria ficar atrás dos seus amigos que já tinham um. Essas crianças não estão usando o Google para fazer a lição de casa; estão jogando games que são a vanguarda tecnológica do novo mercado de livros infantis.
O iPad levou essas novas empresas a entrarem no mercado explícito de fazer enhanced e-books baseados nos livros infantis. O NOOKcolor somente coloca lenha na fogueira.
E como o NOOKcolor é metade do preço ou até menos que um iPad, os pais ficarão mais relaxados com a possibilidade de seus filhos brincarem com ele.
Há testemunhos de que crianças podem ficar mais interessadas num livro de papel depois de terem contato com os personagens e a história através de um enhanced e-book ou aplicativo. Estamos descobrindo isso porque os enhanced e-books feitos hoje estão tendo como base livros que já existem. Isso é uma forma bastante inteligente de entrar no mercado. Por que aumentar o desafio criativo começando do zero quando existe uma enorme quantidade de marcas estabelecidas e personagens para licenciar? E como o primeiro grande sucesso nesse gênero infantil, Alice para o iPad, demonstrou e a Smashing Ideas percebeu, mesmo a exigência de licenciamento pode ser evitada com o uso de textos em domínio público como base.
Meu palpite é que editores - ou quem tiver os direitos - terão um belo negócio, durante um tempo, licenciando livros e personagens para desenvolvedores de enhanced e-books chamados "estúdios digitais" que os transformarão em produtos bem-sucedidos. Com o tempo - e não vai demorar muito - esses estúdios se transformarão nos criadores de novos personagens e franquias, e o livro se tornará o "direito subsidiário". Em quanto tempo? Não muito. Entre três e cinco anos?
Qualquer editor que quiser entrar no mercado infantil no meio dessa década, é melhor comprar um desses estúdios, ou fundar um.
Essa ideia surgiu na minha cabeça há um mês; precisou vencer meu preconceito contra interrupções chatas que é como eu vejo a maioria dos enhanced e-books dirigidos a adultos. Então, claro, começamos imediatamente a montar um painel sobre o assunto para a Digital Book World. Isso me levou a conversar com muitas dessas empresas. Ainda não decidimos quem vai discutir o que estão fazendo nos dias 25-26 de janeiro, mas certamente será uma conversa sobre o futuro próximo do mercado editorial juvenil.

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