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4 de jun. de 2012

Livros apps: o novo conceito de livro digital



Apesar de ser uma eterna apaixonada por livros físicos, sempre estive ciente - e a favor - do advento dos livros digitais. Mas desde que estive em Yale, em julho do ano passado, para o Publishing Management Course, meu pensamento a respeito da produção e vendas de e-books mudou. 

Continuo sendo a favor deles. Mas acredito que falta, principalmente no Brasil, coragem para investir com foco. Voltei do curso em Yale afirmando que levaria a frente dos e-books por aqui quem apostasse enfaticamente na criação de aplicativos (façam uma pausa na leitura e vejam a demonstração do aplicativo "Our Choice", de Al Gore, para entenderem o meu ponto). E, mais além, afirmei que o ideal seria começar investindo nos apps didáticos, para serem usados em salas de aula e nas lições de casa. 

O conceito de e-book deve ser diferente do dos apps de livros: um aplicativo deve ser pensado para haver interação, infográficos, vídeos etc etc etc. 

Outro dia, conversando com uma amiga, debatemos sobre o absurdo que é, em plena sociedade 3.0, as escolas ainda obrigarem os alunos a ficarem quase uma hora parados, olhando apenas para a lousa e para o professor, e ainda exigir que eles aprendam e absorvam o conteúdo, que lhes será cobrado numa única avaliação em que são, literalmente, colocados à prova.

É inconcebível que as escolas, os professores, coordenadores e pais de alunos aceitem com passividade esse atraso na vida de crianças  as mudanças das salas de aula. E leitores conservadores: não me venham com o discurso saudosista que começa com "no meu tempo...". O seu tempo - o nosso tempo - não é o agora. Simples assim. 

Há muito pouco tempo, não existia web mobile, redes sociais, cobertura jornalística em tempo real. Não havia essa necessidade urgente de vivermos compartilhando, curtindo e de sermos instantâneos. E, se o mundo mudou, se a nossa sociedade mudou, por que então as escolas e a educação como um todo não precisariam mudar? É claro que elas precisam!

A escola e a universidade são espaços de debate, de troca de conhecimento. Não dá para ignorar que o acesso ao conhecimento hoje em dia é vinculado à tecnologia. Ignorar isso é um retrocesso na evolução do sistema educacional do país. 


E, então, ontem pela manhã, li na Folha de S. Paulo um artigo da linda da Raquel Cozer, que afirma que Isa Pessoa, ex-diretora editorial da Objetiva, está abrindo uma nova editor, a Foz, que terá foco na produção aplicativos para livros digitais, ou como ela mesma chama na reportagem, os “livros digitais, pensados originalmente para a leitura digital”.

Isa Pessoa
Foto: Cecilia Acioli/Folhapress
A reportagem ainda conta que o carro-chefe da editor sera a Coleção Mestre-Sala, com paradidáticos digitais criados a partir de clássicos da música brasileira. Mas essa brincadeira sairá cara: a produção de cada livro não sairá ppor menos de R$ 90 mil.

Mas a Foz não é única editoa com condições financeiras de investor em um projeto inovador como este. E estou certa de que ela terá muito sucesso e, em breve, começará a ser copiada pelas outras grandes, que engavetaram seus projetos e não tiveram coragem de investir.

As editoras brasileiras vão se surpreender com o sucesso dos livros apps.


30 de jan. de 2012

Afinal, quantos livros estão sendo vendidos?



Há dias estou adiando comentar o assunto da matéria publicada na Folha de S. Paulo, sobre a análise financeira do setor livreiro, que não é clara.

A matéria aponta as várias falhas do nosso mercado na hora de apurar os reais números de vendas de livros no país.

Vale a pena comentar que já estava mais que na hora de alguém, com o mínimo de bom senso, tomar as rédeas da situação. E se ninguém do mercado interno era capaz de fazer isso, então, as empresas estrangeiras são muito bem-vindas!

Para quem não sabe, até o presente momento, os números divulgados nas listas de mais vendidos, incluindo as principais, como Veja e Publishnews, são baseadas apenas na palavra das livrarias: essa semana vendemos tanto disso, tanto daquilo e um tantinho daquele outro.

E assim vem sendo há anos: o mercado editorial inteiro se constrói a partir dessas listas e em busca de ultrapassar os números nelas divulgados, sem a menor responsabilidade de se averiguar se determinadas informações são válidas ou não. Não há nenhuma instituição de mereça credibilidade no setor de pesquisas por trás destes números divulgados: eles falam e nós acreditamos.

O Brasil é a bola da vez. E não dá mais para levar o negócio do livro, que atingiu dimensões gigantescas, de maneira amadora.

Me espantou a demora para que as empresas estrangeiras despertassem interesse em averiguar os números reais do nosso mercado. E assim surgiu o interesse da Nielsen e GfK, duas das maiores empresas de pesquisas do mercado do mundo, que planejam começar a medir as vendas de livros no Brasil ainda neste ano.

Por isso, vamos acompanhar a nova análise do setor, desejando ter resultados de fontes de pesquisas mais sérias e profissionais.

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Mais vendidos?

Gigantes globais em pesquisa de mercado querem medir vendas de livros no Brasil em 2012; dados imprecisos prejudicam expansão do setor
PATRÍCIA CAMPOS MELLO

RAQUEL COZER
DE SÃO PAULO
A Nielsen e a GfK, duas das maiores empresas de pesquisas de mercado do mundo, planejam começar a medir as vendas de livros no Brasil ainda neste ano.
Hoje, o mercado brasileiro não é aferido de forma confiável por nenhum instituto do gênero e depende de dados de editoras e livrarias, que nem sempre informam os números verdadeiros.
Num momento em que o mercado editorial brasileiro chama a atenção internacionalmente-a exemplo da aquisição de 45% da Companhia das Letras pelo grupo britânico Penguin-, a falta de dados concretos prejudica decisões editoriais e interfere em seu crescimento.
"Hoje, o processo é impreciso e lento. Só sabemos números de vendas pelas livrarias de forma aproximada", diz Roberto Feith, vice-presidente do Snel (sindicato dos editores) e diretor presidente da editora Objetiva.
"Com a Nielsen, teremos em tempo real a venda por título, o que ajudará a evitar a falta de livros nas lojas e o desperdício de tiragens", diz.
REFERÊNCIA
A empresa americana trabalha para trazer ao Brasil o BookScan, sistema que é referência nos Estados Unidos e no qual se baseiam listas de best-sellers conceituadas como a do "New York Times".
Há três anos, segundo Feith, o Snel pediu à Nielsen um serviço similar ao prestado a editoras e livrarias espanholas. Na época, a empresa informou que não poderia oferecer o serviço aqui.
No fim do ano passado, a empresa americana procurou o sindicato com um esboço de projeto, que deve ser apresentado com detalhes até o final deste mês.
"Já temos o interesse das editoras. Agora analisamos os custos internos. O projeto deve ir para a frente neste ano", disse à Folha uma fonte da Nielsen. A empresa ainda não contatou livrarias -justo o braço do mercado que pode fornecer os principais dados para as análises.
Já a alemã GfK, presente em mais de cem países, afirma estar em "fase bastante avançada" nesse ponto. "Já temos parceria com vários varejistas. Em 2012, começaremos a aferir o mercado de livros no Brasil", disse à Folha José Guedes, presidente da GfK no Brasil.
Uma das lojas parceiras é a Livraria Cultura, que já trabalha com a GfK nas áreas de games e música. A Nielsen também já atua em outros segmentos no país.


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Análise financeira do setor não é clara

Regime de consignação mantido entre editoras e livrarias dificulta aferição de dados sobre vendas de livros no país


Pesquisa de produção e vendas do mercado editorial, realizada pela Fipe, tem participação de 141 de 498 editoras
DE SÃO PAULO


Um dos fatores que dificultam a aferição de números do mercado editorial brasileiro é o regime de consignação com o qual a maior parte das livrarias do país trabalha.
As lojas recebem livros das editoras sem pagar por eles. Só pagam pelas cópias que forem comercializadas ao cliente; a sobra volta, meses depois, para a editora.
Segundo Fábio Sá Earp, economista da UFRJ que há anos acompanha a evolução do mercado editorial, muitas livrarias demoram a notificar as editoras das vendas, de forma a adiar o pagamento e manter mais capital de giro.
O resultado é que, com frequência, a própria editora não sabe o quanto vendeu.
Como não há no Brasil uma aferição de vendas no ato da compra, como a que a Nielsen e a GfK planejam trazer, são as editoras, nem sempre bem informadas, que fornecem dados da pesquisa anual do setor.
Divulgada sempre no meio do ano, a Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial, elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), também depende da boa vontade dos pesquisados.
A Fipe envia questionários eletrônicos às editoras, que fornecem as informações. É difícil garantir a exatidão dos dados. Nenhuma editora tem capital aberto no país, ou seja, elas não têm obrigação de divulgar esses números.
E grande parte delas não responde aos questionários. De 498 editoras do país que atendem aos critérios da Unesco (edição de pelo menos cinco títulos por ano e produção de ao menos 5.000 cópias), só 141 responderam o questionário de 2010.
Os números que saem daí são, portanto, imprecisos, apesar dos cuidados da Fipe.
Segundo a estimativa, as editoras faturaram R$ 4,505 bilhões em 2010, um crescimento de 2,63% em relação a 2009. No total, foram publicados 55 mil títulos novos ou reeditados -uma média de 150 títulos por dia.
"O levantamento da Fipe tem uma restrição fundamental: as editoras têm medo de que os concorrentes tenham acesso aos dados que passam, e acabam omitindo muita coisa", diz Sá Earp. "Ainda não temos uma análise financeira clara do setor."
Nos EUA, era a mesma coisa até a Nielsen lançar o BookScan, em 2001. Antes, a lista de best-sellers do "New York Times", por exemplo, era feita sem os números totais de vendas de cada título. O jornal fazia uma pesquisa por amostragem, em centenas de livrarias, e publicava o ranking sem números totais -tal como é hoje no Brasil.
Hoje, a Nielsen consegue aferir nos EUA números correspondentes a 75% das vendas em livrarias. As listas publicadas no Brasil, como a do site especializado Publishnews, incluem dados de lojas cujas vendas correspondem a 35% da comercialização em livrarias no país.