7 de dez. de 2011

Mercado editorial: um grito de alerta


Já faz algum tempo que tento postar sobre a saturação de produção de livros no mercado editorial brasileiro. Sim, porque se ainda não considerados um país de leitores (e não preciso listar os nossos incontáveis problemas de desigualdades sócio-econômicas), somos com toda certeza um país produtor de livros. 



Segundo dados divulgados em agosto deste ano, durante a coletiva de imprensa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e da Câmara Brasileira do Livro (CBL) sobre a pesquisa do comportamento do mercado editorial em 2010, há hoje no Brasil cerca de 750 editoras ativas. Destas, 498 enquadram-se no critério UNESCO de editora: edição de pelo menos 5 títulos/ano e produção de pelo menos 5.000 exemplares/ano. A maioria das editoras do país (231) é formada por empresas com faturamento de até 
R$ 1 milhão. 

O número de exemplares vendidos cresceu 8,3%, se considerado só o mercado, e 13,12%, somando a essa conta as compras de governo e entidades sociais. 

O meio de venda de livros que mais cresce no país é o porta a porta, com 21,66% do total do mercado em números de exemplares, mas as livrarias continuam na frente em faturamento, com 62,70% do mercado.
Os segmentos que mais crescem, em número de exemplares produzidos, são, na ordem: religiosos (39,23%), obras gerais (21,99%), CTP (técnicos, jurídicos etc; 21,84%) e didáticos (18,14%). 

As vendas para o PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) cresceram 27%, mas as do PNBE (Plano Nacional das Bibliotecas Escolares) caíram 10,22%. Na média, considerando outros tipos de compra, as compras pelo governo cresceram 13,59%.

A Companhia das Letras, por exemplo, produz 280 títulos por ano. A Recordcoloca no mercado 80 títulos por mês. Se fizermos essa média para as de 750 editoras ativas citadas acima, fica fácil de perceber que o mercado editorial brasileiro está saturado. E isso me preocupa. 

Aparentemente, este é um cenário otimista. Mas, como poucas vezes, eu serei contra essa visão aparente. Estamos publicando um EXCESSO desnecessário de livros no Brasil. 

O artigo “O leitor, onde está o leitor?”, de Affonso Romano de Sant’anna, publicado na Gazeta do Povo, afirma que “o Brasil não produz livros ‘demais’, o Brasil produz leitores de menos.” E, embora eu acredite que seus argumentos sejam muito válidos e sua análise seja impecável para defender seu ponto de vista (sugiro que leiam o artigo na íntegra), eu discordo de Affonso. Não porque ache que o nosso “modelo de leitor” seja o ideal. Longe disso (e recomendo novamente que leiam o artigo na íntegra para entender como poderíamos chegar mais perto desse ideal), mas sim porque independentemente do tipo de leitor, o mercado editorial brasileiro está abusando: temos livros demais, editoras demais, livrarias demais, distribuidoras demais, editores demais e... Sim, leitores de menos. E mesmo que chegássemos perto do tipo de leitor que Affonso sugere em seu artigo, ainda assim seríamos leitores de menos. 

Pior ainda se analisarmos as principais listas de livros mais vendidos: a da Revista Veja e a do Publishnews, que determinam as diretrizes do mercado de best-sellers, lugar aonde todo mundo que chegar. Eu digo pior porque a rotatividade de títulos presentes nessas listas é mínima e, semana após semana, elas apresentam os mesmos títulos, os mesmos autores e as mesmas grandes editoras. E vale lembrar que elas fazem a contagem de vendas com base na relação das mesmas livrarias. Ou seja: chovemos no molhado. 

Quais são as reais tiragens de livros que não vão para as listas de mais vendidos? Para mim, tiragens de 3 a 5 mil exemplares (ou até mais!) de livros os quais os próprios editores sabem que não são apostas já é um exagero. Além do mais, estocar livro custa caro, tanto para a editora quanto para a livraria. 

Vejam bem, eu não estou triste com os crescimentos e nem desejando o fim da produção de livros no Brasil. Aliás, muito pelo contrário. Mas eu temo por uma crise que me parece inevitável! Então, eu me pergunto: cadê o bom senso das editoras na hora de pensar na sua produção? Alguém já avaliou alternativas como impressão sob demanda ou diminuição da produção mensal dos títulos? Que tal investir em menos, mas em melhores títulos? Isso melhoria gradativamente a qualidade da produção dos mesmos e permitira que os profissionais pudessem se envolver de maneira mais adequada no processo de produção. Entre diversos outros pontos. 

Ao contrário da visão otimista que os órgãos do setor livreiro têm desses números, eu vejo um alerta gritante: estamos dentro de uma bolha que, muito em breve, irá estourar. 


E eu aconselho todo mundo a se preparar, porque quando o mercado de livros digitais se consolidar farei questão de levantar a plaquinha: “Eu avisei!”.

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2 comentários :

  1. Adorei o seu texto! Eu tenho pensado nisso há algum tempo; ainda que tenha um bom número de pessoas no Brasil lendo bastante, a esmagadora maioria não suporta livros, lendo somente quando é necessário. Já vi notícias em alguns lugares sobre o excesso de estoque de exemplares nas editoras e livrarias, que nunca consegue se esvaziar. É preciso que nossas editoras pensem mais nisso e procurem pensar em uma solução. Por isso que eu, ao contrário de muitos, defendo cada vez mais a expansão dos ebooks.

    Abraços!!
    Lizzie
    http://ahiddenpalace.blogspot.com

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  2. Obrigada, Lizzie! Vc é mto bem-vinda por aqui! :)

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