Não se fala em outra coisa se não
sobre o recall de “A dança dos dragões”, quinto e último volume da série "Crônicas de Gelo e Fogo", de George RR Martin, publicado pela Editora Leya.
O livro – extremamente esperado
pelos fãs – foi impresso sem o capítulo 26 “Soprado pelo vento”.
A Leya não percebeu o erro até
que fora alertada pelos leitores fanáticos. Numa decisão muito justa (e não
mais que obrigatória), publicou um comunicado oficial em seus canais de mídias
sociais informando que, cientes do problema, fariam um recall dos exemplares já
distribuídos nas livrarias e todos os livros já vendidos seriam devidamente
trocados por novos em perfeito estado. Veja abaixo:
Outra solução oferecida pela editora
foi disponibilizar o capítulo faltante na versão e-book, gratuita. É só acessar AQUI e sua
leitura de “A dança dos dragões” não será mais interrompida.
Se eu fosse
uma fã da série teria ficado muito brava também. Mas teria aceitado as soluções
propostas. Mesmo porque, não me restaria nada mais a fazer, correto? A editora
cometeu um erro gravíssimo e isso não está em discussão. Mas tomou as
providências necessárias para reparar os danos e ninguém sairá prejudicado.
Aliás, de acordo com a matéria
da Folha (sobre a qual tenho algumas dúvidas), o prejuízo da Leya poderá
chegar a R$ 1 milhão. Belo castigo, não?
No mundo ideal, esse problema já
seria considerado resolvido. Mas, no mundo editorial, isso virou uma novela
mexicana. Então, vou aproveitar o drama para lembrar a eterna briga leitor
fanático x editora sobre a tal “demora” para lançar os livros.
A mesma matéria da Folha citada
acima afirma que “A dança dos dragões”, um livro de 864
(OITOCENTASESESSENTAEQUATRO!!) páginas foi revisado em apenas DOIS dias:
“As 864 páginas foram traduzidas em aproximadamente seis meses, e
o processo de revisão --correção de erros e conferência da edição-- durou
apenas dois dias.”
Mas a jornalista Elisangela Roxo, que assina a matéria, não
divulgou suas fontes e a Leya não comentou esse tópico.
Acho essa uma acusação grave. Mas não impossível. Quem trabalha
(ou já trabalhou) em editora sabe da pressão diária por antecipar a grade de
lançamentos, como se o mundo realmente fosse acabar em 2012. E a pressão não é
só interna, não.
Querido leitor, desculpe dizer, mas você é um dos principais responsáveis por erros
como este. SIM! Ninguém imagina a quantidade de e-mails, cartinhas, comentários
no Facebook, Tweets e tudo mais que uma editora recebe, com tons severamente
agressivos, porque os leitores fanáticos acham um absurdo a demora para
publicar a obra X ou Y no Brasil. “Mas é só traduzir, revisar e imprimir”, uns
dizem. “Nossa, mas vocês vão publicar só
quatro volumes dessa série por ano?? Que vergonha”, outros reclamam. E assim
por diante.
Nessas horas, ninguém se preocupa com prazos insanos e trabalhos de qualidade, né? Pessoal, nosso mundo é informatizado e tecnológico, mas o trabalho de produção de um livro ainda é humano.
![]() |
Dica da leitora Vitória |
Não defendo a atitude da Leya e de nenhuma editora que deixa a
pressa falar mais alto que a qualidade do livro. Mas esse caso emblemático,
envolvendo um best-seller desse porte, certamente já é um case editorial. E com ele temos que aprender as lições daquilo que
foi errado e como não devemos repetir isso. A questão é: será que essa reflexão
será feita?
Divido com vocês uma lição que aprendi trabalhando no mercado
editorial: um erro num livro não é um erro de uma pessoa só: é um erro
coletivo. E essa lição eu guardo para a vida.
Todo mundo tem sua parcela de culpa. E erros acontecem. Alguns
podem custar bem caro, como é o caso. Outros passam despercebidos. Mas em ambos
os casos, são erros coletivos. O que realmente conta no final é como se portar
diante desse erro: ignorar e tratar o leitor com descaso, ou se retratar e
arcar com a responsabilidade coletiva?
Pensem nisso e boa leitura!