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3 de jul. de 2012

O drama dos dragões

O mercado editorial está um tédio!
Não se fala em outra coisa se não sobre o recall de “A dança dos dragões”, quinto e último volume da série "Crônicas de Gelo e Fogo", de George RR Martin, publicado pela Editora Leya.


O livro – extremamente esperado pelos fãs – foi impresso sem o capítulo 26 “Soprado pelo vento”.
A Leya não percebeu o erro até que fora alertada pelos leitores fanáticos. Numa decisão muito justa (e não mais que obrigatória), publicou um comunicado oficial em seus canais de mídias sociais informando que, cientes do problema, fariam um recall dos exemplares já distribuídos nas livrarias e todos os livros já vendidos seriam devidamente trocados por novos em perfeito estado. Veja abaixo:


Outra solução oferecida pela editora foi disponibilizar o capítulo faltante na versão e-book, gratuita. É só acessar AQUI e sua leitura de “A dança dos dragões” não será mais interrompida.

Se eu fosse uma fã da série teria ficado muito brava também. Mas teria aceitado as soluções propostas. Mesmo porque, não me restaria nada mais a fazer, correto? A editora cometeu um erro gravíssimo e isso não está em discussão. Mas tomou as providências necessárias para reparar os danos e ninguém sairá prejudicado. Aliás, de acordo com a matéria da Folha (sobre a qual tenho algumas dúvidas), o prejuízo da Leya poderá chegar a R$ 1 milhão. Belo castigo, não?

No mundo ideal, esse problema já seria considerado resolvido. Mas, no mundo editorial, isso virou uma novela mexicana. Então, vou aproveitar o drama para lembrar a eterna briga leitor fanático x editora sobre a tal “demora” para lançar os livros.

A mesma matéria da Folha citada acima afirma que “A dança dos dragões”, um livro de 864 (OITOCENTASESESSENTAEQUATRO!!) páginas foi revisado em apenas DOIS dias:

“As 864 páginas foram traduzidas em aproximadamente seis meses, e o processo de revisão --correção de erros e conferência da edição-- durou apenas dois dias.”

Mas a jornalista Elisangela Roxo, que assina a matéria, não divulgou suas fontes e a Leya não comentou esse tópico. 

Acho essa uma acusação grave. Mas não impossível. Quem trabalha (ou já trabalhou) em editora sabe da pressão diária por antecipar a grade de lançamentos, como se o mundo realmente fosse acabar em 2012. E a pressão não é só interna, não.

Querido leitor, desculpe dizer, mas você é um dos principais responsáveis por erros como este. SIM! Ninguém imagina a quantidade de e-mails, cartinhas, comentários no Facebook, Tweets e tudo mais que uma editora recebe, com tons severamente agressivos, porque os leitores fanáticos acham um absurdo a demora para publicar a obra X ou Y no Brasil. “Mas é só traduzir, revisar e imprimir”, uns dizem.  “Nossa, mas vocês vão publicar só quatro volumes dessa série por ano?? Que vergonha”, outros reclamam. E assim por diante. 

Nessas horas, ninguém se preocupa com prazos insanos e trabalhos de qualidade, né? Pessoal, nosso mundo é informatizado e tecnológico, mas o trabalho de produção de um livro ainda é humano. 


Dica da leitora Vitória

Não defendo a atitude da Leya e de nenhuma editora que deixa a pressa falar mais alto que a qualidade do livro. Mas esse caso emblemático, envolvendo um best-seller desse porte, certamente já é um case editorial. E com ele temos que aprender as lições daquilo que foi errado e como não devemos repetir isso. A questão é: será que essa reflexão será feita?

Divido com vocês uma lição que aprendi trabalhando no mercado editorial: um erro num livro não é um erro de uma pessoa só: é um erro coletivo. E essa lição eu guardo para a vida.

Todo mundo tem sua parcela de culpa. E erros acontecem. Alguns podem custar bem caro, como é o caso. Outros passam despercebidos. Mas em ambos os casos, são erros coletivos. O que realmente conta no final é como se portar diante desse erro: ignorar e tratar o leitor com descaso, ou se retratar e arcar com a responsabilidade coletiva?

Pensem nisso e boa leitura!


3 de jun. de 2011

[Guest Post] O QUE MARTIN E TOLKIEN TÊM EM COMUM ALÉM DO “R. R.”?

Com a nova febre fantástica de "Crônicas de Gelo e Fogo" rolando por aí, o blog não podia deixar de comentar, né?

Para isso, ninguém melhor que o queridíssimo Thiago Ururahy (mais conhecido como @T_Hurukai), colunista da @_Fantastica. Afinal, ele já devorou todos os livros de Martin e fez uma análise bem interessante sobre o que (não) há em comum entre George R.R Martin e J. R.R. Tolkien, o grande autor de "Senhor dos Anéis", de quem ele é fã. Por isso mesmo, pôde falar com muita propriedade a respeito do assunto.

Com sugestão de título de alguém especial, Thiago fez um dos melhores textos comparativos que já li.
Cuidado com os [spoiler alert]  e boa leitura!
Espero que gostem! 

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J. R.R. Tolkien X George R.R Martin







O QUE MARTIN E TOLKIEN TÊM EM COMUM ALÉM DE “R. R.”?

“... a mais importante obra de fantasia desde que Bilbo encontrou o anel.”

Uma das frases da contracapa de Guerra dos Tronos já nos leva a um assunto bastante debatido: Martin é o novo Tolkien? É melhor? É pior? As (poucas) semelhanças existem, mas eu entendo que são fortalecidas exclusivamente pelo fato de que o público é o mesmo. Não adianta limitar a argumentação dizendo que “As Crônicas de Gelo e Fogo” é uma série adulta, diferente da magia juvenil de “O Senhor dos Anéis”. O público é exatamente o mesmo e eu explico o motivo.

A saga chega em um momento que não poderia ser mais perfeito. Os leitores fanáticos de Tolkien cresceram. Eu li Tolkien com 15 anos e, desde então, ansiava por algo que suprisse essa lacuna literária. Pois bem, George Martin escreve exatamente para esses leitores como eu, que são apaixonados pelo “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”, mas que esperam relações mais adultas entre os personagens e a história. Para nós, não basta mais um belo conto épico do bem contra o mal. Queremos ver uma linguagem mais pesada, passagens mais violentas e personagens mais ardilosos do que o velho estereótipo do herói (i.e., Aragorn).

A Guerra dos Tronos traz todos esses conceitos: intrigas, sexo, traições, mortes, perdas de entes queridos, romance e, claro, uma dose cavalar da velha e boa aventura que tanto amamos. E apenas nos dois últimos eu julgo sensata uma comparação entre os autores. “Senhor dos Anéis” apresenta um romance mais pueril e, até dado momento, platônico. “As Crônicas de Gelo e Fogo” carrega sua dose de amor sublime até a “página 2”, até porque [spoiler alert] o mais romântico dos personagens chega ao final da vida logo no início da série (no final do primeiro volume, Guerra dos Tronos,). [spoiler alert] Já com relação à aventura, temos os nossos hobbits transmutados na figura de Arya, seja com o humor providencial de Merry e Pippin ou com as dificuldades épicas sofridas por Frodo e Sam.

A partir desse ponto, esqueçam as comparações. E o motivo crucial para mim é a relação dos personagens com o leitor. Em “Senhor dos Anéis” você torce pelo bem e odeia o mal. Ponto final. A obra é grandiosa e perfeita, mas limita-se a uma linha óbvia. No livro de Martin, atire a primeira pedra quem não amou, odiou, riu e sentiu pena do mesmo personagem durante os acontecimentos. Estou falando de Tyrion Lannister, o anão. Você esperava que Robert Baratheon fosse um rei épico? Eu também. Depois você percebe que ele está mais para um porco fornicador épico.

Para mim, o último ponto forte que separa os dois livros é a condução da narrativa. Os dois dividem os capítulos em Unidades Dramáticas diferentes. Em “Senhor dos Anéis”, temos o núcleo de Frodo, o núcleo de Aragorn e o núcleo de Merry e Pippin. Em “As Crônicas de Gelo e Fogo” a coisa se torna grandiosa a ponto dos núcleos se cruzarem e voltarem a se separar mais de uma vez. Novamente, requer uma atenção maior do leitor, agora em um momento literário mundial que permite tais extravagâncias.

Concluindo, a comparação entre Tolkien e Martin só é válida porque o público envolvido pelas duas obras é o mesmo. Uma complementa a outra em um momento em que os leitores cresceram. Minha dica: dê “O Senhor dos Anéis” para seus filhos adolescentes. Garanto que alguns anos depois eles utilizarão seu primeiro salário como estagiários para comprar a série completa de “As Crônicas de Gelo e Fogo”.