"Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: dar voltas.''
Eu sei que já faz uma semana que José Saramago faleceu e que muitos vão dizer que estou atrasada nos post. Quer saber? Não me importo! Eu sei que estou atrasada. Mas ainda não ter escrito nada sobre a triste morte de Saramago não teve nada a ver com minha falta de tempo costumeira de atualizar isso aqui. Não, dessa vez o motivo foi outro.
Eu simplesmente não queria chegar aqui e fazer um simples release jornalístico de vida e obra daquele que considero um dos maiores gênios da Língua Portuguesa. Isso todo mundo já fez e refez e quase conseguimos decorar a trajetória honrosa esta mestre da literatura.
O que eu queria era mais do que isso... Eu queria poder contar a vocês e dividir aqui minha relação com o texto dele, e isso me levou certo tempo.
“O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas.
O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.”
Eu me dei conta de que demorei para ler Saramago. Já estava no primeiro ano da Faculdade de Jornalismo da PUC-SP quando me encorajei a ler Ensaio sobre a cegueira.
Eu não sou uma pessoa muito fácil de me comover com filmes e livros. Choro pouco e confesso ser um cética demais em muitos aspectos. Mas este livro causou uma reação atípica de mim, que não só chorei entristecidamente, como sofri junto com as personagens e pude sentir a agonia de cada uma delas.
A maldade do ser humano, a crueldade que há em cada um de nós (e acreditem: não há exceções)... O desespero, a ruindade, o medo, a fome... Todos esses sentimentos me vieram à flor da pele a cada página devorada por mim. E muitos de vocês devem perguntar-se por que, então, não abandonei a leitura? Porque era simplesmente impossível de fazer isso!
Saramago tem um jeito tão particular de escrever, tão dele, tão único; que cria um imã entre seus livros e os leitores. É uma relação passional que, se analisada do ponto de vista racional, faz todo o sentido do mundo!
"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo."
É por isso que o considero um gênio: porque ele causa reações transformadoras em quem o lê e, principalmente, em quem se permite entendê-lo.
O fato de ter recebido Nobel, de ser um idealista imortal, de ser um lutador invicto... Bom, tudo isso só agrega qualidades aquilo que lhe é natural: a transparência.
A leitura dos livros de Saramago é uma experiência quase dolorida, de tão humana. Mas todos nós deveríamos nos propor a sofrê-la.
Ler José Saramago mudou minha vida, minha perspectiva do mundo e, principalmente, minha compreensão do ser humano.
E é por isso que , para mim, Saramago é pra sempre!
"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."
José Saramago, Paris, 1998.
Fotografia: Daniel Mordzinski.
Arquivo Fundação José Saramago
Fotografia: Daniel Mordzinski.
Arquivo Fundação José Saramago
P.S: Recomendo a todos que ainda não tenham feito, que leiam o texto de Luiz Schwarcz, editor de Saramago no Brasil (todas as obras dele são publicadas pela Companhia das Letras), no Blog da Companhia. O texto "Saudade não tem remédio" é uma declaração sincera que comprova, mais uma vez, a transparência desta grande homem que foi José Saramago.
P.S2: A Editora Leya publicou o livro Saramago - Biografia, de João Marques Lopes. Para quem tiver interesse em conhecer um pouco mais sobre ele, é uma boa dica de leitura bastante agradável, além de vir com um cadernos de fotos lindíssimo, que inclui a imagem acima.
P.S3: Leiam mais posts sobre Saramago:
*Todas as citações acima são de autoria de José Saramago.
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