“Um escritor, como um pugilista, precisa ficar sozinho. Ter suas palavras publicadas é como entrar num ringue: coloca seu talento em evidência e não há onde se esconder.”
É assim que o filme “O resgate de um campeão” começa e termina. Seguindo um conselho (muito bem dado, diga-se de passagem) assisti ao filme e, como previsto, cá estou escrevendo sobre a relação dele com minhas profissões (assim no plural mesmo).
Para quem não sabe, sou formada em Jornalismo, pela PUC-SP E em Produção Editorial, pela Universidade Anhembi Morumbi. Costumo dizer que fiz a escolha do casamento perfeito, porque os cursos me foram extremamente complementares. Então, decidi incluir aqui minha “terceira profissão”: blogueira; e assim, abrir uma discussão e convidar a todos vocês para participarem: ÉTICA.
Há algumas semanas, no post “Parceria, uma via de mão dupla”, muitos comentários falaram da seriedade do trabalho de um blogueiro como jornalista. Eu discordo desse ponto de vista. Acho que blogs não necessariamente precisam ser de propriedade de um jornalista, isso não faz o menor sentido, já que a Internet é de todos. E, acima de tudo, acho que os blogs não precisam fazer o mesmo trabalho que o de um jornalista.
Jornalista é o profissional que gasta a sola do sapato (como me ensinou meu melhor professor da PUC) para correr atrás da verdade factual. E toda verdade tem dois lados. Cabe aos jornalistas autenticar a coerência das versões, apresentando-as ao leitor, de maneira objetiva e fiel à realidade. É o caminho da busca da verdade é o que move (ou pelo menos deveria) um profissional do jornalismo.
É exatamente isso que o repórter esportivo Erik, personagem de Josh Hartnett faz no filme citado acima. Perdido em sua profissão, ele salva um sem-teto e acredita que ele seja Bob Satterfield, uma lenda do boxe, que todos acreditavam estar morto. Assim, surge a oportunidade de uma grande matéria, resgatando a história de um campeão. Envolvido com a ganância de mostrar-se competente para seu chefe, sua ex-mulher, seu filho e para si mesmo, ele esquece os princípios básicos do jornalismo e publica uma matéria falsa, já que o verdadeiro Bob Satterfield realmente estava morto há anos. Erik não se comprometeu com a verdade factual e não checou nenhum fato que lhe foi apresentado. Ele não foi jornalista, mas, sem querer, foi um belíssimo escritor.
A matéria, que lhe rendeu sucesso momentâneo e grandiosidade profissional de poucos dias, seria um excelente livro de romance-reportagem, gênero inaugurado por Truman Capote, com o livro A Sangue Frio¹, num caso clássico em que a literatura respira a ficção, mesmo que baseada em fatos reais.
Acredito que não há mais jornalismo que prenda a real atenção dos leitores. Eles não querem mais saber e não têm mais tempo para ficar lendo textos e mais textos sobre a tal verdade factual. O que todo mundo quer e gosta mesmo é de uma boa história para contar, ouvir e poder debater sobre. E uma história sempre pode virar uma outra história, basta você permitir e sua imaginação deixar. Uma boa história deve ser escrita com paixão e transmitir o sentimento.
E no meio de tudo isso, há os blogs. Uma ferramenta de fácil acesso e simples manuseio, que invadiu nossas vidas e que tem todos os componentes para atrair diversos tipos de leitores, com brilhantes textos reais ou ficcionais. Os blogs têm um poder que não imaginam, mas também podem serem perigosos, quando passam a corromper o significado de ética.
Um bom blog deve sair do senso comum. Sair desse mais do mesmo de sempre e adentrar no campo do imaginário do leitor, garantindo fidelidade de visitação e visibilidade na blogosfera. Porém, da mesma maneira que Erik, o protagonista do filme, foi irresponsável em sua publicação -e assim como vemos casos semelhantes diariamente no cenário do jornalismo brasileiro e mundial-; a blogosfera parece estar recheada de coisas do gênero.
Ao assistir “A Rede Social”, percebi mais do que nunca que TUDO o que se escreve online é instantâneo e eterno. Com a mesma facilidade que a moda na Internet pega rápido, aquilo fica para sempre. Um exemplo bem próximo de nós, blogs literários, foi o caso citado no post “Parceria, uma vida de mão dupla”. Não importa que você tire o blog do ar, que você apague o texto, que remova a postagem no Facebook ou que delete do Twitter: alguém sempre já deu um print screen, já deu RT, já encaminhou por e-mail... Você nunca é rápido o suficiente para corrigir um erro online.
A Internet é rápida, eficiente, poderosa e pode ser extremamente impiedosa. Ou você se consagra em instantes, ou se destrói em minutos.
Talvez eu pareça um pouco vintage (talvez eu seja mesmo), mas acredito que essas esferas estão intrinsecamente ligadas. Não dá para desvincular jornalismo, literatura e blogs. Aqui, a parceria é de mão tripla: uma coisa depende da outra, direta ou indiretamente. Mas vale ressaltar que uma coisa NÃO é a outra.
Jornalista é jornalista. Escritor é escritor. Blogueiro é blogueiro. Mas todos eles têm um ingrediente comum: a busca pela ética. Seja lá qual for sua área de atuação, a ética deve sempre estar presente. E, infelizmente, temos visto falhas grandes e lamentáveis nesse quesito.
Finalizando, deixo as questões:
Finalizando, deixo as questões:
Vocês acham que ÉTICA é mesmo essencial na relação jornalismo - literatura - blogs?
Sim? Não? Por quê? Como é possível manter a ética em esferas tão próximas e de tão fácil edição como essas?
Aguardo o retorno de vocês!! :)
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¹ Se você não leu A Sangue Frio, CORRA! Além de ser uma história excelente e escrita de maneira muito envolvente (um dos meus favoritos, aliás), este livro é um marco na história do jornalismo e da literatura mundial, sobretudo dos Estados Unidos, dada a reflexão sutil sobre as ambiguidades do sistema judicial do país, que desvenda o lado obscuro do tão desejado American Dream).
Esse texto esta EXCELENTE!!!! De verdade, meu queixo caiu. Vou dar RT, print,compartilhar... mas td pra te consagrar, prometo! Beijão, querida. Você é um grande exemplo para mim!
ResponderExcluirOi, Talita. Não nos conhecemos pessoalmente. Recebo teus textos acho que é por meio da lista DemoCom. De toda forma, achei interessante o título e li até o final. Me interesso muito pelo tema Jornalismo, sou jornalista há mais de 30 ... bem, quero acrescentar apenas uns comentários: no caso do jornalismo, a tal da ética (ou seria melhor dizer deontologia, que é a ética aplicada a um fazer profissional específico) exige que se busque ouvir o contraditório, quando é o caso. No que é diferente do blogueiro ou do escritor? É que o jornalista tem como função social atender o interesse do público (melhor seria dizer dos cidadãos) de serem informados. Daí é que deriva a regra de "ouvir os dois lados" e muitas outras. O que é uma forma um pouco esquemática demais de dizer as coisas, pois nem sempre há dois lados: pode haver muitos interesses envolvidos em uma questão contraditória. Então, é preciso encontrar no emaranhado de fatos e versões um fio condutor que permita compor um texto que faça sentido do ponto de vista da satisfação dequele direito primeiro a que me refiro, que é o das pessoas estarem informadas. E a ética, ou deontologia, ou que outro nome se queira dar, está intimamente ligada à técnica profissional.Não ha´como separar uma coisa da outra, no meu entender. É isso. São apenas algumas opiniões de um apaixonado pelo tema. Abraço. Saúde e sucesso na tua vida! Fred Ghedini.
ResponderExcluirNão sou formada em nada, portanto não tenho base para opinar que não seja minha experiência própria. Mas tenho para mim que ética deveria ser premissa do ser humano. Ética leva à honestidade, e é uma coisa que todos deveriam praticar, ainda mais quando se trata de emitir uma opinião que vai influenciar outras pessoas. Só o que muda é o meio usado para se expressar.
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